Adaptação é feita com troca de informações com outros deficientes. Médicos ainda informam pouco sobre o assunto, diz psicóloga da Unesp.
A sexualidade dos deficientes físicos ainda é um tabu. Contrariando o senso comum de que pessoas com necessidades especiais têm uma vida sexual pouco ativa em função das próprias limitações, o trabalho de pós-doutorado da psicóloga da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Ana Cláudia Bortolozzi Maia, aponta que essa população tem sim interesse sexual, mas ainda esbarra nas dificuldades de orientação.
A psicóloga, que tem um livro sobre o tema (Sexualidade e Deficiências, Editora Unesp), acompanhou um grupo de 12 pessoas com diferentes dificuldades de locomoção. O resultado das entrevistas realizadas pela pesquisadora demonstra que além do interesse pelo relacionamento amoroso e sexual, os portadores de deficiência aprendem a adaptar suas vidas sexuais com a troca de informações com outros deficientes.
A relação sexual, nesses casos, pode requerer alguns cuidados especiais, como a aplicação de lubrificantes para as mulheres e o uso de medicamentos orais ou intravenosos para a ereção do pênis. Também pode ser necessário esvaziar a bexiga antes do ato e adaptar posições “Eles aprendem mesmo é com os outros deficientes, pois muitas vezes os médicos não estão preparados para falar sobre o assunto com eles”, diz Ana Cláudia.
A psicóloga conta que a auto-estima e a preocupação com a aparência foram assuntos constantemente relatados pelos entrevistados. “A preocupação com a questão estética foi demonstrada por ambos os sexos”, afirma a psicóloga.
No entanto, entre as preocupações dessa população há diferenças. Enquanto os homens demonstram mais preocupação com a capacidade de ter ereções, as mulheres têm dúvidas em relação ao orgasmo, à fertilidade e à capacidade de se sentirem atraentes. “No caso de deficiências adquiridas (como lesões medulares resultantes de acidentes), os homens costumam comparar também suas performances hoje com antes de serem deficientes”, diz.
A pesquisa de Ana Cláudia aponta que um comportamento comum entre os familiares dos deficientes é achar que eles não têm interesse por sexo, namoro e casamento. Uma jovem que participou do estudo conta que sua mãe não se importa quando ela sai com amigos homens, mas controla sua irmã mais nova, como se o contato dela com rapazes fosse assexuado e sem intenções eróticas, ao contrário da irmã não-deficiente.
Deficiência intelectual
Ana Cláudia, que também faz o acompanhamento de deficientes intelectuais, conta que nesses casos o tabu pode ser ainda maior. “Fingir que eles não têm desejo só piora a situação”, afirma. “Hoje, muitos deficientes intelectuais contraem Aids porque têm vida sexual mas não têm acesso a informação.”