Projeto desenvolvido pelo arquiteto e urbanista ergonomista Jorge Luiz Silva vai criar acesso para os deficientes físicos realizarem o passeio às piscinas naturais da Pajuçara com segurança e conforto. O projeto conta com o apoio da prefeitura de Maceió
O pescador e jangadeiro Sidney Cícero da Silva, 40 anos, conhecido como Dinho, é testemunha das dificuldades de acesso dos deficientes físicos às piscinas naturais. Para subir na jangada, Dinho precisou do apoio de três homens e foi amarrado no banco para fazer o passeio mais seguro. Mas no final deste mês o projeto “Jangada Acessível” promete dias melhores para os portadores de necessidades especiais, principalmente para quem tem mobilidade reduzida.
Para o projeto Jangada Acessível sair do papel, o arquiteto Jorge Luiz conta com o apoio logístico da Secretaria Municipal de Promoção de Turismo (Semptur), da Superintendência Municipal de Controle do Convívio Urbano (SMCCU) e da Associação dos Deficientes Físicos de Alagoas (Adefal). A execução da construção da jangada está a cargo de Dinho. Já o artesão de Viçosa Durval Joaquim desenvolveu a esteira de bambu para facilitar o acesso do cadeirante até a jangada
A construção da jangada acessível já está na reta final. Segundo Dinho, no máximo dentro de 20 dias deve ficar pronta para navegar. A jangada tem 1,90m de comprimento e 2,50m de largura e pode comportar até dois deficientes físicos com a cadeira de rodas e mais um acompanhante. Na construção da jangada foram utilizadas as madeiras de pequi, jaqueira, maçaranduba e igapó.
A jangada é mais larga que as tradicionais e, segundo Dinho, quanto mais extensa melhor a estabilidade e segurança da embarcação. “Estou contente de participar do projeto porque o deficiente físico vai se sentir mais livre, não vai precisar do apoio de ninguém para subir e descer da jangada. Estamos em fase de testes; quando estiver pronta, o melhor período para fazer passeio às piscinas é na luas cheia e nova, porque a maré forma um banco de areia”, conta o jangadeiro.
O projeto Jangada Acessível precisou de parcerias para acontecer, diz o arquiteto Jorge Luiz. “Quando começamos a executar o projeto percebemos que areia fofa da praia é um obstáculo para o cadeirante chegar à jangada e até mesmo ter acesso à praia. A partir dessa dificuldade surgiu a ideia de fazer uma adaptação nas rampas até a jangada e coube ao artesão Durval executar o projeto com bambu. A primeira tentativa não deu certo, pesava mais de 160 quilos”, lembra Jorge.
Para a esteira dar certo o artesão de Viçosa utilizou o bambu cana-da-índia, que é mais leve, resistente e ideal para uso na praia. A esteira tem cinco metros de comprimento e 1,60 metros de largura permitindo ao cadeirante fazer o giro completo.
“A Prefeitura de Maceió, apoiadora do projeto através da sua Secretaria de Turismo, já se comprometeu a executar as adequações necessárias na área de implantação do projeto, possibilitando o deslocamento do estacionamento até a areia da praia com segurança e autonomia. A Secretaria de Convívio Urbano também já esteve no local para ver os testes na esteira e agilizar o processo”, diz o arquiteto.
O cadeirante e associado da Adefal, José Batista, 35 anos, está otimista com o projeto da Jangada Acessível. Ele participa ativamente dos testes para que a embarcação seja adequada a todos que tiverem mobilidade reduzida. José Batista diz que não encontrou dificuldade para subir e descer da jangada que também tem espaço para a cadeira de rodas girar. Já sobre a esteira ele disse que será o maior sucesso, porque facilita o trajeto do cadeirante até a praia para tomar um banho de mar sem ficar preso na areia.
“Quando conheci o projeto, abracei de coração, criar acessos é uma questão de cidadania. Também é interessante que Jorge fez o projeto, mas compartilha com a prefeitura, Adefal, jangadeiros, ou seja, a comunidade através de seus representantes está opinando para que tudo dê certo”, relata.
Segundo a assessora de projetos especiais da Semptur, Cláudia Paiva, no turismo já existe uma consciência de criar condições de acesso nos hotéis, aeroportos, restaurantes e passeios como o das piscinas naturais, que tem a particularidade de ser realizado pelos jangadeiros. “A prefeitura é parceira do projeto e estamos dando todo apoio logístico para que em breve Maceió tenha mais um serviço a oferecer às pessoas com mobilidade reduzida, o passeio de jangada acessível”, diz Cláudia.
A primeira jangada acessível do Brasil está sendo financiada pelo próprio Jorge Luiz, mas a proposta é de construir mais três, e o arquiteto está aberto a novas parcerias para ampliar o projeto. “Maceió, além de belas praias, tem ótimas condições topográficas da bacia que favorecem a implantação do projeto, porque tem águas abrigadas pelos arrecifes. Outro fator importante é que a orla de Maceió, apesar de não está 100% da norma nacional de acessibilidade, está acima da média nacional e, por último, o aeroporto do Estado é o único do Brasil dentro das normas de acessibilidade. Com a jangada vamos dar um passo adiante na cidadania”, argumenta Jorge Luiz