De acordo com o cadeirante Vanderlei Silva Rosa, de 37 anos, a locomoção ainda é difícil. “Quando a rampa não está funcionando, o jeito é desmontar a cadeira e se arrastar até o acento. Mesmo com a ajuda de cobradores ou motoristas, que são muito gentis, acabo sujando a roupa e chegando nos locais com uma aparência indesejada. Isto quando dá pra ir. Muitos cadeirantes não conseguem nem embarcar nos coletivos, porque a cadeira não entra”, conta.
Vanderlei disse ao O PROGRESSO, que tem vários amigos que já foram vítimas de estelionato porque, sem locomoção, eles acabavam passando procuração para que terceiros realizassem transações bancárias. “O caso mais recente foi de um cadeirante aposentado. Ele descobriu que tinha uma dívida de R$ 10 mil e que o débito estava sendo descontado de forma parcelada, mensalmente na folha de pagamento. O golpe teria sido aplicado por um colega que se propôs a fazer serviços bancários para a vítima”, conta.
Segundo Vanderlei, muita gente acaba optando por ficar em casa ou utilizar um serviço de vans, do que correr o risco de não conseguir entrar nas circulares.
Silva utiliza os ônibus para chegar até o centro da cidade e poder pagar contas, receber benefício, e trabalhar. “Se os circulares fossem adaptadas o número de cadeirantes a utilizar o coletivo seria bem maior”, opina.
Conforme o coordenador Arcelino Arce, do Centro de Convivência Dorcelina Folador, outra dificuldade é que com a falta de ônibus adaptados os veículos acabam fazendo um itinerário extenso. “Para chegar no meu trabalho, por exemplo demoraria quatro horas, quando o tempo correto seria de, no máximo, 40 minutos”. Ele disse que as reclamações acontecem diariamente. “Os cadeirantes sempre estão reclamando que não conseguem acesso nos ônibus. Estamos nos mobilizando para verificar o que de fato está acontecendo”, disse.
MEDIANEIRA
O gerente-geral da Medianeira transportes de Dourados, Marcelo Saccol, disse ao O PROGRESSO, que faltam políticas públicas em nível nacional, que resolvam as dificuldades dos cadeirantes.
Segundo ele, Dourados passa por transformações, mas ainda falta estrutura em prédios, pontos de ônibus e calçadas. “Enquanto não houver transformação total, as reclamações vão continuar. Apenas instalar rampas em ônibus não resolve o impasse”, disse.
Ele explica que além de caro, os consumidores acabariam pagando pela implantação do sistema. “Cada adaptação custa em média R$ 20 mil. Este valor acaba sendo repassado no custo das passagens e o consumidor paga mais caro devido a falta de projetos voltados para esta categoria”, conta.
Outro problema, segundo Marcelo, é que trabalhando com ônibus adaptado, perde-se a previsão de horário. “Com todas as paradas e atendimento aos deficientes, os ônibus atrasam e os consumidores reclamam muito e geram crise”, disse, observando que as rampas seguem padrão nacional de tamanho e que muitas cadeiras que são modificadas atendendo a necessidade do usuário, não cabe no espaço destinado aos sistemas comuns.
O gerente explica ainda que os ônibus próprios para deficientes, atendem diariamente das 5h às 23h num itinerário leste à oeste e norte e sul do município. Quanto a falhas nas rampas, o gerente explica que todo o procedimento mecânico tem seu percentual de problemas, mas que nos últimos dias o sistema vem funcionando normalmente. Por mês, cerca de 120 deficientes são atendidos. Saccol anuncia que a partir desta semana, quando estarão sendo feitos cadastros dos usuários, será ponto de partida para conhecer a realidade de cada um deles e estudar novos meios de reestruturar o serviço. (Valéria Araújo)
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