A vida é mesmo surpreendente! Quando menos se espera, novos caminhos surgem, trazendo consigo a oportunidade de mudanças. Nesse ano, voltei a fazer acompanhamento médico no Sarah de Belo Horizonte. Em relação a minha lesão, tudo permaneceu igual. Em compensação, conheci a terapeuta funcional Lúcia que me sugeriu andar em uma cadeira de rodas motorizada, iniciando mais uma revolução na minha vida.
Mesmo andando em cadeira de rodas há 18 anos, ainda mantinha no meu inconsciente a esperança de um dia voltar a andar. Utilizar uma cadeira motorizada seria aceitar de vez o fato de que nunca mais voltaria a andar. Conversando com a Lúcia, mudei totalmente meu pensamento. Já que meus braços são mais fracos e nunca terão muita força, a cadeira de rodas motorizada me daria a oportunidade de ser mais independente e ter muito mais liberdade.
Resisti um pouco à idéia. As cadeiras motorizadas são mais caras e bem mais pesadas. Se já enfrento dificuldades em locais sem acessibilidade, como sobreviver motorizada??
A primeira coisa que fiz foi coletar informações na internet e procurar cadeirantes para trocar informações. Mobilizei meus amigos para que me ajudassem. Consegui encontrar apenas 3: a Lidiane, o André e o Cláudio, que me deram dicas bem úteis. Em seguida, fiz um test-drive no Sarah e na loja onde comprei minha possante. A vendedora da loja também é cadeirante motorizada. A Adilce me deu uma aula sobre como manusear a cadeira, como agir quando andar sozinha, etc. Segue, abaixo, um resumo do que encontrei.
– Consegui localizar dois fabricantes de cadeiras motorizadas no Brasil. A Freedom, do Rio Grande do Sul e a Hummel de São Paulo. As fisioterapeutas do Sarah e a maioria dos vendedores me recomendaram comprar uma cadeira Freedom. Uma coisa que achei interessante nas cadeiras da Hummel foi o fato da cadeira ser tanto manual quanto motorizada. De acordo com a necessidade, o usuário modifica algumas coisas na cadeira (ex: tiram as baterias, troca as rodas) transformando-a em manual. Deve ser excelente para quem gosta de viajar e adora se atolar na areia ou em pedras. A cadeira motorizada agüenta andar na areia, em cidades histórias e chãos esburacados, mas não é recomendável. O desgaste é muito grande, diminuindo sua vida útil. Mandei um email para as duas empresas pedindo mais informações. Só que até hoje, mais de um mês depois do contato, ainda não recebi um retorno.
– As cadeiras de rodas da Hummel são mais caras. A mais barata que encontrei custa mais de R$ 7000,00. Esteticamente, achei os modelos oferecidos pela empresa mais feios. A Freedom possui uma linha de cadeiras motorizadas, com modelos que vão do mais simples (cerca de R$ 5000,00) à modelos mais sofisticados (R$ 7000,00). A empresa oferece ainda uma variedade de acessórios: guarda-chuva, suporte para malas, mesa, cesta de supermercado, mochila, etc.
– Com as duas baterias, o peso da cadeira é cerca de 70 kg. Mas as baterias são bem fáceis de serem retiradas. A cadeira já vem com um carregador inteligente, bastando acoplá-lo a uma tomada para recarregá-la. Ela cabe na maioria dos carros: Honda Fit, Doblô, Siena, Palio Weekend, etc. No caso do Doblô, pode-se levar a cadeira, sem desmontá-la, no interior do carro. Existem rampas que são acopladas às portas traseiras permitindo que o deficiente ande de carro sem precisar sair da cadeira. A rampa de alumínio, que é bem leve, custa cerca de R$ 3000,00; uma opção mais econômica é a rampa de chapa (R$ 300,00), porém muito mais pesada..
– Uma das partes principais da cadeira é o joystick. Ele não poder ser molhado de jeito algum. Uma dica interessante que recebi foi sempre andar com uma sacola plástica na bolsa. Assim que começarem os primeiros pingos de chuva, é bom protegê-lo. Senão, a cadeira pode ficar desgovernada.
– Para subir/descer pequenos degraus, é preferível pedir auxílio a outras pessoas de forma a evitar grandes baques na coluna. Para isso, deve-se colocar a cadeira no manual e subir sempre de frente e descer de costas. Lá no Sarah, eles me ensinaram a sempre jogar meu corpo para frente quando for subir uma rampa e a jogar o bumbum pra frente quando for descer rampas. Assim o corpo se equilibra melhor.
– Os modelos mais novos já vêem com freio eletromagnético. Caso a pessoa esteja descendo uma rampa e solte a mão do joystick, a cadeira pára instantaneamente. Outra vantagem são as rodas anti-tip que ajudam a equilibrar a cadeira de rodas em rampas.
– Segundo a vendedora, para se viajar de avião, é preciso ter baterias especiais (secas). O par dessas baterias custa cerca de R$ 1000,00, enquanto as baterias normais custam R$ 500,00 o par.
– Comprei minha cadeira através do Plano de Saúde da empresa na qual trabalho. Mas alguns bancos possuem linhas de financiamento específicas para isso. Por exemplo, a Caixa Econômica Federal possui o BCD Caixa – Viver sem Limites, o Banco Real possui o CDC Mobilidade Equipamento e o Itaú o Leasing para pessoas portadoras de deficiência. Vale à pena fazer uma pesquisa e comparar as taxas de juros.
Ainda não recebi a minha cadeira. Ela deve chegar na semana que vem. Mas o pouco que andei nela me fez ter a certeza que foi um excelente investimento. A sensação de liberdade, de sentir o vento batendo no rosto, de andar sozinha – mesmo que sobre rodas – não tem preço.
Agora, uma nova fase se inicia. Novos desafios virão… Mas, como diz meu amigo Gnomo, basta ter vontade e coragem que tudo se resolve. É uma questão de prática dominar a cadeira… Logo, logo, compartilharei com vocês minhas impressões de cadeirante motorizada.. Aguardem às cenas dos próximos capítulos!!
Fonte: Rede Saci