O conceito de inclusão é muito recente se comparado à trajetória secular de exclusão em nosso país. Segundo a palestrante da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) e consultora do Movimento Incluir, Carolina Ignarra, grande parte das empresas do país cresceu e se desenvolveu sem ter em seu quadro de funcionários pessoas com deficiência. “Este tipo de profissional passou a ser contratado a partir de 1999, pelo Decreto 3.298 que regulamentou a Lei de Cotas 8.213/91”.
Porém, não adianta respeitar o Decreto simplesmente. Muitas organizações não sabem ainda como se portar diante desta realidade por ser um processo que envolve uma profunda transformação, revisão de conceitos e paradigmas, necessidade constante de informação, derrubada de barreiras culturais e arquitetônicas, além de atribuir responsabilidades para todos os envolvidos: a empresa, seus colaboradores e dos próprios profissionais com deficiência.
“De 2001 a agosto de 2008, evoluímos muito em termos de contratação. No início tínhamos cerca de 12 empresas contratando 600 deficientes no Estado de São Paulo. Hoje, temos mais de 6 mil empresas que contratam mais de 82 mil pessoas. Atualmente, 101 mil estão trabalhando no Brasil, sendo que deste número 43% são pessoas com deficiência física, 33% auditivos, 10% são profissionais reabilitados, 6% visuais, 4% mentais e 1% com deficiências múltiplas”, detalha Carolina.
Em uma de suas palestras para a ABTD, Carolina destacou aspectos importantes como o esclarecimento da empregabilidade inclusiva; estruturação de planos de ação; orientação de contratação e programas de retenção; ferramentas de sensibilização e ações de responsabilidade corporativa social. “A falta de preparo do gestor, a busca pela deficiência e não pelo potencial, a restrição da contratação por profissionais que necessitam de auxílio nas funções básicas e a falta de entendimento da Lei de Cotas são hoje os maiores fatores que dificultam o processo empregatício”, afirma.
Dicas para as empresas: Nem sempre o entrevistador consegue lidar naturalmente com o candidato com deficiência. Carolina Ignarra listou alguns detalhes que devem ser levados em conta no momento da entrevista de acordo com o tipo de deficiência da pessoa.
1) Deficiência visual: Conduzir é orientar a locomoção. | Ao indicar uma cadeira coloque as mãos do cego no encosto. | Atente-se aos obstáculos que ficam pendurados. | Mantenha as áreas comuns desobstruídas. | Permita a entrada de cão guia. | Palavras como “olhe” ou “veja” podem ser usadas naturalmente. | Reserve vagas no estacionamento. | Coloque um segurança à disposição para acompanhar a pessoa.
2) Deficiência física.: Em conversas prolongadas, procure sentar. | Nunca apóie nas cadeiras de rodas, muletas, bengalas e andadores. | Mantenha as muletas, bengalas e cadeira de rodas próximas da pessoa . | Se não entender o que a pessoa disse, peça para repetir. | Deficiência nos membros inferiores, espere para cumprimentar. | Palavras como “corra” ou “ande”, utilize naturalmente. | Mantenha sempre o contato visual. | Escolha salas sem informações visuais (quadros, por exemplo).
3) Deficiência auditiva: Não adianta gritar. | Chame a atenção da pessoa colocando-se em seu campo de visão. | Fale pausadamente e articulando as palavras. | Simplifique o vocabulário, facilite a comunicação. | Gestos, mímicas, bilhetes, desenhos podem ser utilizados. Seja criativo. | Faça perguntas simples e diretas. | Seja claro ao passar informações.
4) Deficiência intelectual: Geralmente são muito carinhosas. Não as trate de maneira infantilizada. | Não subestime seu potencial de desenvolvimento e aprendizagem. | Podem ser mais lentos. | Permita que o deficiente intelectual tome decisões. | Explique as tarefas, mostre como fazer e peça para ele repetir.
Pesquisa IBGE Segundo o Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 24,6 milhões de pessoas são deficientes, o que corresponde a 14,5% da população. Deste número, 48,10% são pessoas com deficiência visual , 27,10% são pessoas com deficiência física, 16,6% são pessoas com deficiência mental, 8,2% são pessoas com deficiência auditiva.
Cerca de 46% da população com deficiência são moradores de cidades com mais de 100 mil habitantes. No Nordeste estão concentrados 16,8%, 14,7% no Norte, 14,3% no Sul, 13,9% no Centro-Oeste e 13,1% no Sudeste. No Brasil, 10 mil pessoas adquirem deficiência por mês, 46% por acidentes envolvendo arma de fogo, 24% em acidentes de trânsito e 30% em outras situações.
Perfil de Carolina Ignarra:Carolina Ignarra é educadora física e adquiriu a paraplegia depois de formada. Formou-se em dinâmicas dos grupos, atuou na área de Consultoria em Qualidade de Vida nas Empresas por dez anos. Hoje, dirige as consultorias Movimento Incluir e Talento Incluir, desenvolve treinamentos de sensibilização focados na inclusão sócio-econômica das pessoas com deficiência e desenvolve programas de inclusão desta população nas organizações de acordo com a realidade de cada empresa.