Luiz Rodrigo, Tiago, Cristina, Larissa, Juliana e Edna. Nomes comuns, mas de pessoas especialíssimas. Não são especiais apenas porque são deficientes. São especiais porque conseguiram provar para todo mundo – e para eles mesmos – que podem alcançar ótimos resultados no mercado de trabalho.
A inclusão está acontecendo aos poucos, influenciada pela conscientização das famílias, das empresas e também pela Lei das Cotas, que obriga a contratação de deficientes conforme o número de pessoas empregadas.
A inclusão hoje já pode ser considerada uma vitória. Mas ela ainda não é plena. Existem barreiras que precisam ser vencidas. E uma delas é a educação profissional.
As empresas querem contratar deficientes qualificados para as vagas que forem aparecendo, em diferentes áreas. Muitas empresas não desejam apenas contratar para respeitar a Lei das Cotas. Por isto, é essencial uma formação técnica e profissional.
“A qualificação tem melhorado, mas nem todos os deficientes estão preparados para o mercado de trabalho e para a vida profissional. Hoje, há mais empresas interessadas em contratar do que deficientes qualificados”, comenta Anna Elisa Haj Mussi, diretora da Operativa Gestão de Pessoas, que desenvolve o programa IncluiRH, fazendo o elo de ligação entre as instituições de ensino e o mercado de trabalho. “Acredito que daqui a alguns anos venha uma nova leva de deficientes mais qualificados”, avalia Anna.
Deficientes com graduação e pós-graduação, ocupando cargos de extrema importância? Isto é possível. A montadora Renault, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, conta com alguns exemplos disso. Luiz Rodrigo de Souza é assistente financeiro e está na Renault desde 2005.
Na mão dele (ele tem um problema no braço direito e dificuldade de fala) estão alguns dos principais pagamentos da empresa. “Eu tive a oportunidade de fazer a faculdade de Administração e uma pós-graduação em Negócios Internacionais. Eu consegui aqui consolidar muito meu conhecimento e aplicar isso. Eu dou graças a Deus aos dois gestores que tive aqui, porque me exgiram igual aos outros funcionários. E eu consegui me adaptar às dificuldades que foram aparecendo”, comenta Luiz.
Eliane Polidoro: funcionário está dobrando a média. |
A supervisora financeira Eliane Polidoro Berti, chefe de Luiz, conta que algumas adaptações foram feitas quando ele chegou no departamento. Os manuseios de documentos agora são evitados para poupar Luiz.
“A produtividade dele é ótima. A média de registros no mês para um funcionário excelente é de 3,5 mil. O Luiz chega a dobrar este número, em virtude da otimização das operações, que ele mesmo contribui. Luiz foi um achado e um presente para a gente”, relata.
Tiago Rodrigues Weller está na Renault há um ano e ocupa o cargo de analista de estudos. Trabalha com os desenhos das peças do interior dos veículos e é professor universitário. Por meio de contatos dos próprios alunos, ele se inscreveu e passou pela seleção da empresa.
“Quando eu entrei, estava realizando um sonho. Mas tinha o receio de ter que enfrentar muitas dificuldades. Foi justamente o contrário”, lembra. Tiago, que possui deficiência física (problemas nos braços), está terminando um mestrado em Engenharia Mecânica. Paralelamente, faz outro curso de pós-graduação, na área de desenvolvimento de produtos.
A alegria de quem recebe oportunidades
A empolgação é percepítvel naqueles que encontraram dificuldades. Juliana Pereira Cibin passou por diversos empregos e conseguiu sentir satisfação profissional quando entrou na indústria de alimentos Kraft Foods, em Curitiba.
Juliana tem deficiência metal leve e foi efetivada após ter trabalhado na Páscoa do ano passado. Está na empresa há oito meses, como auxiliar de produção na fábrica Dry Mix (sucos e outros produtos em pó). “Eu não me considerava deficiente. Eu mesmo não aceitava e queria entrar no mercado de trabalho normal.
Mas, com a pequena lesão que eu tenho, era muito difícil. Dava três, quatro meses, e me dispensavam. Eu me considero uma pessoa normal, com algumas dificuldades, como qualquer outra. Hoje, é tudo muito melhor. Posso até ficar fazendo a mesma coisa poranos e anos que vou estar feliz”, declara Juliana.
Edna Conceição Correa, de 19 anos, teve mais sorte. Ela tem deficiência visual e trabalha na fábrica de Queijo da Kraft. É o primeiro emprego dela. No curso de capacitação da empresa, foi uma das melhores. Edna já fazia cursos de capacitação até tentar esta vaga, o que ajudou a ter mais confiança.
“Não é porque sou deficiente que eu não isso fazer. É ótimo ser respeitada da forma que você é”, garante. No total, a Kraft conta com 156 fucionários com algum tipo de deficiência.
Uma alegria que contagia – apesar de não ser expressa em palavras -vem de Larissa da Silva, uma deficiente auditiva que trabalha como operadora de produção, na montagem de veículos da Renault. Está na empresa há dois meses. Durante dois anos, ela trabalhou com o pai em uma oficina mecânica e sempre teve o sonho de trabalhar em uma empresa grande.
“Enviei meu currículo e demorou um ano para me chamarem para a seleção. Estou com muita vontade de crescer”, conta Larissa, por meio da linguagem de Libras, interpretada pelo seu chefe. A Renault possui um programa de ingresso e
retenção de deficientes.
Adaptação física é o desafio
Além da capacitação profissional, ainda existem dois desafios para a inclusão
plena dos deficientes: a adaptação da infra-estrutura física e a cultura de
algumas empresas, que não estão preparadas para receber os deficientes e entender algumas dificuldades que estes possam apresentar.
A asssistente de compras da Renault, Cristina Welter da Silva – que tem deficiência física – destaca a importância de contar com uma estrutura adaptada.
“Já trabalhei em lugares que não tinham qualquer adaptação. Estrutura, como transporte especial, refeitório e banheiros adaptados, reflete na qualidade
do seu trabalho”, assegura.
Saber das dificuldades e das necessidades – existentes e a que vão surgindo – é um dos grandes segredos para criar uma harmonia perfeita entre empresa e os funcionários deficientes. “Ouvindo, conseguimos fazer diversas adaptações. A gente tem que se colocar no lugar deles”, diz Cristina Gonçalves, da responsabilidade social da Renault. (JC)