O Congresso Nacional promulgou, nesta quarta-feira, um decreto baseado em uma convenção das Nações Unidas. Assim, pelo menos no papel, a partir de agora os brasileiros portadores de deficiência terão todos os direitos garantidos na Constituição.
É o caminho das compras, mas a sensação é bem outra. “Eu estou em uma selva”, diz o produtor de eventos Ronald de Carvalho.
Ronald tem esclerose múltipla e nenhuma facilidade pela frente. “O acesso do cadeirante ao comércio é precário”, conta Ronald.
O síndico mandou botar barras de ferro para impedir a passagem de motos. “Isso é uma síntese do problema que as pessoas com deficiência enfrentam. O motociclista que não tem consciência usa como um atalho para ele. O poder público tinha que vir e tomar uma providência. E o síndico jamais poderia tomar uma atitude dessas.
Com ajuda, vai. “Tem que empurrar o carrinho. Passou, agora vai”, ele reclama. “Galeria, nem pensar”.
O precipício seria uma rampa? “Não é possível que eles tenham considerado como uma rampa”, ele diz, indignado.
Como atravessar a rua? “Mesma coisa: sem acesso”, lamenta o produtor.
Rampa que dá em uma escada. Rampas íngremes. Produtor de eventos, Ronald vai tratar de negócios no Ministério do Turismo. Bem, ia.
“Como é que eu faço para entrar?”, pergunta Ronald.
“Não tem rampa de acesso”, alega um funcionário do ministério.
Ao aderir à convenção da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil não está só prometendo acessibilidade. O compromisso é oferecer trabalho, estudo, oportunidades e proteção a cada um dos 24 milhões de brasileiros que tem algum tipo de deficiência. Como é que se tira isso do papel?
Talvez fazendo como a professora Dinorah. Criou uma biblioteca para cegos. Dois mil livros em braile. Centenas de cegos já foram alfabetizados. Um lugar assim, onde as oportunidades da vida aparecem, seria só uma biblioteca?
“É um centro mágico, uma terapia das mais preciosas que podem existir no mundo”, afirma Dinorah.