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Campineira é finalista de concurso de moda para deficientes físicos

Fã das percepções e do idealismo de Gabrielle, imortalizada pelo sobrenome Chanel, a designer campineira Julia Gonçalves, de 24 anos, sonha reverter algumas fragilidades vivenciadas por deficientes físicos que gostam de vestir-se bem. Prova disso é a conquista de uma das 20 vagas na etapa final do “3° Concurso de Moda Inclusiva”, criado pela secretaria estadual de Direitos da Pessoa com Deficiência. Em frenesi pelo reconhecimento do trabalho, mas com a ponderação de quem visa alcançar o lugar máximo no evento, “Jubs”, como é chamada pelas amigas de mestrado, dedica-se para aprimorar três produtos a serem utilizados por cadeirantes.

 

Tudo alicerçado no “design a serviço do bem-estar” de Victor Papanek, mas com inspiração caseira. “A minha paixão por moda surgiu com a minha mãe, Maria Tonussi. Quando criança, ela me ajudava a criar roupas para as bonecas”, recorda-se entusiasmada.


A decisão de ingressar no concurso, inclusive, deve-se aos relatos feitos pela mãe, enfermeira do Centro de Reabilitação Lucy Montoro. “Sempre conversamos sobre as dificuldades encontradas no cotidiano dos deficientes físicos. Os produtos que estamos desenvolvendo unem a paixão dela pela costura com o que pude aprender na minha formação de designer”, explica a campineira.

Embora alguns dos pensamentos tidos durante a adolescência tenham flertado com as carreiras de bailarina e médica, a criatividade de Julia está atrelada ao engajamento social.  “Minha dissertação de mestrado lida exatamente com a falta de interesse dos profissionais e ausência de bibliografia referente à moda para esse público”, comenta. Hoje, cerca de cinco milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, somente no Estado de São Paulo, segundo dados de 2010 do IBGE.

Frente aos males da ditadura da moda, Julia estabelece o objetivo da carreira. “Sonho trabalhar com acessibilidade. É um campo que exige esforço, mas é muito necessário. Faz a diferença”, conclui. O desfile final está marcado para o dia 20 de setembro, na Casa Brasileira da cidade de São Paulo.

 

Sem opções
Duas vezes por semana, o analista Rodolfo Cano, de 24 anos, visita o Centro de Lazer do Trabalhador “Ayrton Senna da Silva”, em Valinhos, para realizar uma das atividades favoritas: praticar tênis. Em breve ele vai coordenar o projeto de natação paraolímpica na cidade.

O analista aprova a iniciativa da moda inclusiva. “É sinal de que finalmente estão pensando em todos. Acabo optando por marcas americanas de roupa, pois são maiores e mais confortáveis”, critica.

Falta provadores
Quando visita lojas de roupas, Rodrigo Reis, de 25 anos, já não encontra a mesma facilidade para fazer compras. “É quase impossível experimentá-las (roupas) nas lojas, em virtude da dificuldade de acesso aos provadores. É necessário provar, pois a roupa tem um caimento diferente pelo fato de estar sempre sentado”, explica.

Ao saber dos trabalhos que visam facilitar a vida de deficientes físicos, comemora. “Acho uma ótima iniciativa. Mostra que nós também podemos ‘andar’ na moda, mas do nosso jeito. Gostaria de roupas mais ajustadas. Algumas apertam em certos lugares e ficam largas em outros”, completa, com bom humor

A aposentada Ida Palermo, de 52 anos, teve de começar a usar uma cadeira de rodas há três anos. Embora consiga se adequar ao que é oferecido pelo mercado da moda, ela também critica a estrutura dos provadores. “Realmente faltam lojas específicas para atender certos segmentos. Todos merecem conforto”, diz.

Sobre a designer
Julia Gonçalves é formada em design pela Facamp e atualmente trabalha a dissertação de mestrado no programa de Têxtil e Moda pela Universidade de São Paulo, sob orientação da professora Isabel Italiano.
Em 2008, ela participou do concurso “Meu primeiro Renault”, e recebeu menção honrosa e teve o trabalho exposto no Salão do Automóvel. O trabalho de conclusão de curso, desenvolvido em 2010, levou a campineira à final do concurso “Idea Brasil”. Mais detalhes sobre o trabalho da designer pom ser conferidos no perfil criado pela profissional no site LinkedIn.

A reportagem do EPTV.Com não cita as características ou exibe fotos dos produtos desenvolvidos pela candidata de Campinas pois a organização do concurso orienta os candidatos a não divulgarem os produtos antes do desfile, sob pena de desclassificação do trabalho.

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