Deficientes físicos que querem dirigir encontram uma dificuldade que vai além das provas e exames necessários para tirar a habilitação. São José dos Campos é a única cidade da região onde há banca examinadora e uma autoescola preparada para receber esses alunos. Quem mora em Jacareí, por exemplo, precisa vir para a cidade vizinha. Fernanda Alves teve uma perna amputada após uma trombose, e dentro de casa faz tudo com a ajuda de muletas. Ela só se cansou mesmo do transporte público para deficientes. “Eu cheguei a pegar um ônibus na praça, e quando estava quase chegando ao meu bairro, fiquei de pé porque ninguém me deu lugar para sentar”, conta. Decidida a ter o próprio carro, ela foi procurar uma autoescola pra tirar a habilitação, foi quando veio a surpresa. “Fui a quatro autoescolas e nenhuma delas tem carro adaptado”, explica.
A maioria das cidades brasileiras não tem autoescolas autorizadas ou preparadas para dar aulas de direção em carros especiais, adaptados para deficientes. Em Jacareí não é diferente. Fernanda, por exemplo, não tem condições financeiras de se deslocar para São José dos Campos, a cidade mais próxima que tem uma autoescola com carro especial. O proprietário de uma autoescola da cidade Demésio da Mota justifica a falta dos veículos adaptados. “A demanda é pequena, se tivesse um consórcio, onde as autoescolas pudessem se adaptar e todas elas ter um carro em conjunto como uma espécie de cooperativa, acho que atenderia a necessidade”, afirma.
Por lei as autoescolas não são obrigadas a ter um carro especial. As empresas alegam que é impossível ter um carro para todos os tipos de deficiência, pois cada limitação vai exigir uma adaptação diferente. Segundo o Detran, é permitido que o deficiente aprenda a dirigir no próprio carro. Neste caso, ele precisa ter o veículo adaptado antes de saber dirigir. “Muitas vezes o carro tem que ser automático, o mais comum da adaptação é o volante, a embreagem, e o freio”, conta o proprietário da autoescola.
Mas mesmo assim, Fernanda precisaria viajar para outra cidade, já que a dela não tem examinadores especiais autorizados pelo Departamento de Trânsito. São eles que avaliam a deficiência, indicam a adaptação no carro e aprovam a carta do portador. O delegado da Ciretran de Jacareí, José Roberto Avanci, explica qual o caminho certo nestes casos. “Aqui no Vale do Paraíba todos vão até São José dos Campos, onde existe uma banca especial que avalia o candidato, assim como também existe uma autoescola, com veículos adaptados e autorizados pelo Detran, para que se faça todo o procedimento para que o interessado venha a obter sua Carteira Nacional de Habilitação”.
Fernanda ainda espera uma solução. “Só que eu não moro em São José dos Campos, moro em Jacareí. E eu quero levar uma vida normal, como todo mundo”. Mesmo fazendo as avaliações e aulas em São José dos Campos, o delegado indica que os interessados dêem início ao processo de habilitação na Ciretran da cidade onde mora. Cada Delegacia de Trânsito faz então o encaminhamento para São José.