O equipamento funciona com um sistema eletrônico interligado diretamente à máquina. O cursor é movimentado com o balanço lateral da cabeça. A partir de um emissor de luz infravermelha e de um receptor fixados nos óculos, com apenas um piscar de olhos é possível dar o clique no mouse.
O protótipo é uma criação dos estudantes Alexandre Sampaio, de 19 anos, Cléber Quadros e Filipe Carvalho, ambos com 17 anos. Foi desenvolvido dentro do curso de Mecatrônica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul), no campus Charqueadas.
Responsável pelo projeto, o professor Márcio Bender considera boas as chances de comercialização dos óculos-mouse. “É um equipamento de baixo custo e que atende às necessidades e limitações dos usuários”, comenta. No entanto, pondera que o protótipo ainda precisa passar por mais alguns testes antes de chegar ao mercado.
O mesmo trio de alunos também criou um forno elétrico adaptado para deficientes visuais. Com um painel em braile e avisos sonoros, qualquer cego pode utilizar o equipamento com tranquilidade.
E eles não são os únicos com perfil de professor Pardal, o clássico personagem das revistas em quadrinhos de Walt Disney, famoso por sua série de invenções. Outro grupo do instituto projetou uma bengala eletrônica. A inovação traz um sensor ultrassônico instalado. Desta forma, o equipamento capta a presença de barreiras mais altas que estão espalhadas pelas ruas. “Entramos em contato com uma associação de cegos. Eles relataram que acidentes com orelhões e placas de trânsito são os mais comuns”, lembra o professor Bender.
Depois de adiar o sonho de ser médico, Filipe Carvalho garante que está feliz em projetar instrumentos para facilitar a vida de portadores de deficiência. “Tenho uma irmã que está em uma cadeira de rodas e sei um pouco das dificuldades que eles passam.”
Charqueadas ganha destaque no desenvolvimento tecnológico
A cidade gaúcha de Charqueadas é reconhecida no Rio Grande do Sul por abrigar um grande complexo penitenciário, reunindo milhares de apenados em quatro estabelecimentos prisionais. Além disso, a população conta com uma unidade da empresa Gerdau produzindo aços longos especiais.
Mas o município, localizado a mais de 50 quilômetros de Porto Alegre, vem se destacando também por dar os primeiros passos em direção ao desenvolvimento de novos avanços tecnológicos. Com a implantação de um campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul) em setembro de 2006, teve início a formação de jovens, e a cidade já começa a colher alguns frutos.
A criação dos óculos-mouse fez grande sucesso no Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, realizado em novembro de 2009, em Brasília. O trio de inventores ficou impressionado com a repercussão da invenção, que ganhou destaque na página eletrônica do Ministério da Educação (MEC).
Mas o principal objetivo do IFSul ao investir em projetos deste tipo é ampliar as formas de acessibilidade. “Queremos garantir a todos a oportunidade de estudar dentro do instituto”, afirma a coordenadora do Núcleo de Apoio às Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais (Napne), Andréia Colares.
Foi através da professora e do Napne, implantado em 2008, que o campus de Charqueadas passou a incentivar fortemente a pesquisa na área de inclusão. “Temos um levantamento do número de portadores de deficiência aqui no município e sonhamos com que eles também possam usufruir do IFSul em um futuro próximo.”
A sede do instituto em Charqueadas reúne atualmente cerca de 400 estudantes de oito municípios da região Carbonífera. Em 2010, mais 160 alunos devem ingressar no campus do IFSul na cidade.a