A imagem da pequenina entrou na sua mente como um vendaval. “Fiquei revoltado, queria até processar o hospital. A mulher havia me dito que minha filha estava chupando o dedo na ultra-sonografia e ela nasceu sem os braços. Nem sei como eu cheguei em casa”, conta.
Contaminado pela angústia, Vicente teve dificuldades para aceitar o fato da sua filha ser diferente fisicamente das outras crianças. “Eu fiquei revoltado no começo, mas hoje agradeço a Deus de ter uma filha tão linda”, derrete-se o pai coruja.
Vicente já teve muitos empregos e hoje trabalha como taxista para manter a família. Diariamente ele precisou conviver com pessoas preconceituosas, encontradas em todos os lugares por onde levava a filha. “As pessoas são cruéis quando querem. Os comentários não eram feitos direto pra mim. Era tudo pelas costas. Tinha gente que se levantava do banco quando eu sentava com a minha filha”, diz, com indignação na voz.
Eva tem hoje sete anos. Desde cedo os pais perceberam que ela jamais seria refém da deficiência. “Minha filha não se sente inferior a ninguém”, enfatiza a mãe de Eva, a dona de casa Sônia Martins de Castro, 39 anos. As palavras não saíram da boca de Sônia com o peso da revolta, e sim, com a leveza da convicção de que sua filha não se entregou às limitações e nem se curvou às opiniões distorcidas dos guardiões do preconceito.