ACESSIBILIDADE

Educação municipal derruba barreiras para a aprendizagem dos alunos com necessidades especiais

De acordo com a lei, toda e qualquer criança tem o direito de freqüentar uma escola regular, de conviver com as demais crianças, professores e funcionários dessa comunidade, socializando-se e aprendendo aquilo que for capaz de absorver, inclusive aquelas que apresentam necessidades educativas especiais. É a chamada educação inclusiva, preconizada pelo Ministério da Educação e que durante o governo do prefeito Roberto Petto vem registrando importantes avanços na rede municipal de ensino de Teresópolis.

“Nosso governo investe para que o aluno com qualquer necessidade educativa especial seja incluído na rede de ensino e tenha acesso ao ensino de qualidade. Para tanto, equipamos o serviço direcionado ao atendimento específico deste público e promovemos a formação continuada dos educadores, para que eles sejam capazes de vencer as dificuldades relativas ao processo de ensino-aprendizagem e se conscientizem de que ser diferente faz parte da característica humana”, avalia o prefeito Roberto Petto.

 

Duas escolas-pólo equipadas para atender alunos com deficiência visual e auditiva; Sala de Apoio Pedagógico Específico com equipamentos e materiais adaptados para alunos deficientes visuais e auditivos; cursos de capacitação para educadores; escolas municipais com rampas e banheiros adaptados; carteira escolar que se encaixa na cadeira de rodas; transporte de estudantes cadeirantes em veículos adaptados. Esses são alguns dos recursos disponibilizados para os 451 alunos que têm algum tipo de necessidade especial matriculados nas escolas municipais: são 32 com deficiência auditiva, 21 com deficiência visual, 62 estudantes com deficiência física, 76 alunos com deficiência intelectual e 260 com conduta típica, como depressão, fobia e anorexia.

 

“O Governo Petto vem trabalhando na construção de um sistema educacional inclusivo, que contemple as especificidades dos alunos com deficiência, buscando sempre qualidade de ensino e respeito aos seus direitos. E os resultados são alcançados através da qualificação dos professores, profissionais dedicados que assumem integralmente o compromisso com a formação global dos alunos da rede”, destaca a secretária municipal de Educação, professora Maria do Rosário Grandini Carneiro.

Desde o segundo semestre de 2004 foram ministradas 1.345 horas de cursos pertinentes à Educação Especial e sua efetiva aplicação no contexto escolar, como braile, linguagem brasileira de sinais, educação inclusiva, saúde mental e desenvolvimento na infância e na adolescência, com a capacitação de 1.160 profissionais da educação. Os educadores atuam tanto em sala de aula promovendo a educação inclusiva, como com apoio itinerante aos alunos deficientes visuais, auditivos e físicos da zona rural.

 

Educação especial

Com a visão de que incluir significa lidar com a diversidade, a Secretaria de Educação de Teresópolis mantém serviço específico para trabalhar com esse propósito: a Divisão de Educação Especial. Coordenada pela pedagoga, psicomotricista e especialista em educação inclusiva Jaqueline de Castro Rodrigues, desde 2004 a divisão é formada por profissionais capacitadas nas áreas de psicologia, pedagogia, psicopedagogia, psicomotricidade e fonoaudiologia.

No entanto, diante da demanda de alunos com necessidades educativas especiais que se matriculavam nas escolas municipais e para desenvolver um trabalho especializado, o atendimento foi ampliado com a criação de pólos específicos para atender estudantes com deficiência auditiva, que funciona na Escola Municipal Maçon Lino Oroña, na Várzea, e para alunos com deficiência visual, instalado na Escola Municipal Belkis Frony Morgado, no bairro de São Pedro.

“A Divisão mapeia os alunos com deficiência e condutas típicas de toda a rede municipal de ensino, dá suporte, apoio e orientação aos professores e equipes diretivas, bem como orienta os pais desses estudantes, entre outras ações inclusivas”, enumera a coordenadora, Jaqueline de Castro Rodrigues.

 

Paralisia cerebral

Imagine uma sala de aula onde se sentam, lado a lado, alunos com paralisia cerebral, deficiência auditiva ou visual e seus coleguinhas. E à frente da turma, um professor que  atenda as necessidades educacionais de todos, sem distinção. Pois isso vem acontecendo nas escolas municipais de Teresópolis. Brenda dos Anjos Carvalho, 8 anos, do 1º ano do Ensino Fundamental, e João Marcos de Almeida da Silva, 10 anos, do 2º ano, ambos alunos da Escola Belkis Frony Morgado, no bairro de São Pedro, mais Mariana Xavier Cleis, 16 anos, do 7º ano na Escola Sakurá, na Ermitage, são cadeirantes e têm paralisia cerebral. É a lesão de alguma parte do cérebro provocada, muitas vezes, pela falta de oxigenação e que, entre outros problemas, compromete os movimentos do corpo e causa desordens de visão, de audição e da fala. Os três freqüentam as aulas regularmente. Brenda e João Marcos são atendidos na SAPE – Sala de Apoio Pedagógico Específico, que funciona na Escola Belkis Morgado, onde são acompanhados pela professora e pedagoga Tereza Cristina Viveiros de Oliveira. Brenda tem comprometimento motor e intelectual, e João Marcos, só motor. “Na SAPE nós verificados o grau de dificuldade de cada um e trabalhamos com materiais pedagógicos adaptados, confeccionados por nossa equipe, através dos quais estimulamos a aprendizagem deles. E o material também é levado para a sala de aula, onde as atividades educativas têm continuidade de acordo com as necessidades específicas desses alunos”, explica Tereza.

Vista pelos professores e colegas como uma aluna dedicada, organizada e estudiosa, Mariana assiste aula normalmente com os outros colegas, recebendo a mesma explicação de conteúdo das matérias. Ela é acompanhada pela professora itinerante Lúcia Maria Pecego Coelho. Mariana não tem habilidade motora e com isso não consegue escrever. Por isso, foi criada a carteira que se encaixa na cadeira de rodas dela. “Criamos um alfabeto, com as letras impressas em papel rígido, em que ela pode pegar cada letra e formar frases. Na matemática, os números e letras também são confeccionados com material rígido, para que Mariana resolva as questões e expressões numéricas. Nas outras disciplinas, como geografia e história, ela faz a leitura nos livros didáticos, além de prestar bastante atenção na aula. Tudo isso visa a dar o máximo de autonomia para a criança com  alguma necessidade”, reforça Lúcia Pecego, que é fonoaudióloga. Mariana se sente totalmente integrada à rotina escolar. “Gosto muito de estudar no Sakurá, todos me tratam muito bem e me ajudam quando preciso de alguma coisa. A matéria que mais gosto é geografia. Quero fazer faculdade, mas ainda não sei qual”, afirma Mariana.

 

 

Deficiência visual

Existem 12 alunos cegos e nove com baixa visão matriculados na rede municipal, em turmas de  Educação Infantil, no Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos. Eles são atendidos na SAPE – Sala de Apoio Pedagógico Específico, montada na Escola Belkis Frony Morgado, onde aprendem a ler e escrever em braile – sistema de escrita em relevo usada pelos deficientes visuais. A coordenação é da professora, psicopedagoga e especialista no sistema braile Cristina Kenupp Marcelino.

A SAPE é equipada com programas de computador específicos, duas máquinas de escrever e impressora em braile e reglete – instrumento de escrita manual do sistema braile. Também são utilizados materiais pedagógicos e técnicos apropriados para a deficiência. Todo o material usado em sala de aula de todas as matérias é adaptado, como provas e exercícios. “Buscamos a integração escolar do indivíduo de forma plena, para que se tornem cidadãos participativos e tenham vida ativa e independente na sociedade”, explica a professora Cristina. 

Aluna do 9º ano do Ensino Fundamental no Centro Educacional Nossa Senhora de Fátima, Shellyn Cristina da Silva Cardoso, 16 anos, tem cegueira bilateral secundária e glaucoma neovascular. Traduzindo: ela nasceu sem enxergar com o olho direito e com baixa visão no olho esquerdo. Porém, há um ano e meio Shellyn perdeu a visão totalmente. A partir daí, foi alfabetizada em braile pela professora Cristina Kenupp Marcelino, que transcreve todo o material utilizado em sala de aula para o sistema de escrita em relevo, inclusive provas. Como o governo federal só disponibiliza livros didáticos escritos em braile para as séries do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental, Shellyn utiliza o recurso de gravação de áudio das aulas para estudar em casa.  

 

“Na escola, tenho o apoio de todo mundo. Quando aprendi braile, todos também quiseram aprender, então ensinei o alfabeto”, diz Shellyn, que em 2009 vai entrar no Ensino Médio, onde vai cursar formação de professores. Ela pretende prestar vestibular para Letras. A mãe da estudante, Joseni da Silva Cardoso, destaca a importância da rede municipal de ensino contar com um serviço de educação especial. “Minha filha é muito bem atendida e tem todo o apoio da escola, o que permite que ela estude sozinha em casa, se tornando independente”, elogia.  

Maria Gorete Souza Silva tem visão subnormal e faz a 7ª  etapa da Educação de Jovens e Adultos no Centro Educacional Beatriz Silva, na Barra do Imbuí. Para estudar, ela conta com o auxílio de lupa e utiliza caderno com pauta ampliada e material com texto ampliado, confeccionado pela equipe da Sala de Apoio Pedagógico Específico, onde é atendida há quatro anos. “Não consigo ler o que a professora escreve no quadro, mas meus colegas ditam pra mim. Também recebo orientação com leitura da matéria em sala de aula. Os recursos da SAPE me ajudam muito”, comenta Gorete.

 

Jovem escritor

Com apenas 15 anos, o jovem Dynardo Ribeiro Ramos, portador de mucopolissacaridose tipo 6, doença que lhe tirou a visão e comprometeu seu desenvolvimento físico, já escreveu dois livros: Uma Estrela de Vida – Contos que eu Conto, lançado em 2007, e Sob o Teto da Cidade, que será lançado neste sábado, 8 de novembro, dia do seu 16º aniversário. Ele cursa o 6º ano de escolaridade no Cerom, no bairro de São Pedro, e utiliza os recursos pedagógicos da Sala de Apoio Pedagógico Específico. Quando se matriculou na rede municipal, Dynardo já escrevia em braile, mas aprendeu muita coisa, como a usar bengala e a jogar dominó. “Mais do que isso: meu filho aprendeu a ter mais confiança nas pessoas, fez novos amigos e ganhou uma família na Divisão de Educação Especial”, ressalta a mãe do adolescente, Geísa Rosa Ramos, grata. Bem-humorado e sempre com um sorriso no rosto, Dynardo conquista novas amizades com facilidade, sendo considerado o xodó de sua turma. “Gosto muito de estudar e de conversar com meus colegas. Tenho bons professores, que me ajudam muito”, conta.

 

De educadora a aluna

Professora municipal aposentada, tendo trabalhado inclusive no serviço de educação especial, Ruth Zisman Arruda Lima está em reabilitação na SAPE, que atende tanto alunos matriculados nas creches e escolas municipais quanto pessoas da comunidade com deficiência visual. Ruth teve um derrame na vista em 2005 e tem baixa visão. Na SAPE ela está aprendendo a ler e escrever em braile e a usar bengala. “Há um impacto muito grande quando se perde a visão, a pessoa sofre muito com a aceitação do problema e também com o preconceito da sociedade. E o atendimento neste serviço está sendo bastante positivo e produtivo, pois contamos com materiais e equipamentos específicos e, o mais importante, com professora especializada e dedicada”, conta.

 

Deficiência auditiva

Pólo de atendimento de pessoas com deficiência auditiva, a Escola Maçon Lino Oroña Lema, na Várzea, conta com sala específica para alunos surdos de diversos níveis. Há dois anos, dezoito estudantes, com idade entre 6 e 22 anos, aprendem a Língua Brasileira de Sinais (Libras), em dois turnos. Na parte da manhã, onze alunos que já dominam a linguagem de sinais agora aprendem português – leitura, escrita e interpretação – e matemática. À tarde, sete jovens dão os primeiros passos na aprendizagem em Libras, indispensável para a comunicação na vida escolar e no processo de socialização.

Professora do Lino Oroña há quatro anos, Cintia Bandeira Tulli conta que há dois aceitou o desafio da Secretaria Municipal de Educação e se capacitou na Linguagem Brasileira de Sinais. Hoje ela ajuda os alunos a superar limites e derrubar preconceitos. “Estamos conquistando excelentes resultados na busca pela inclusão social dos portadores de necessidades especiais. É muito gratificante ver os estudantes entendendo o que é dito em sala de aula, se comunicando na mesma linguagem, enfim, ganhando mais confiança”, revela Cintia. Além das professoras, foram qualificados outros profissionais que lidam diretamente com os alunos, como secretárias, merendeiras e inspetores. “Uma vez por semana as turmas regulares têm aula de Libras, o que facilita a comunicação e a interatividade entre todos os alunos”, conta a professora.   

A integração entre os alunos é tão boa que a escola criou o coral “Mãos que Cantam”, que substitui o canto por uma coreografia de gestos bastante expressiva. Débora Siqueira Batista, 14 anos, portadora de deficiência auditiva, participa do coral e de todas as atividades do colégio. “Eu adoro estudar, mas nas outras turmas eu não entendia nada do que o professor falava, apenas copiava as matérias no quadro. Agora eu tenho a oportunidade de estudar mais e me comunicar melhor com meus amigos”, comemora Débora, orgulhosa.

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