Aclassificação internacional das doenças (CID) o caracteriza como transtorno mental. Os indivíduos que o possuem garantem se tratar de um jeito de ser diferente. Independentemente das teorias, o autismo ainda é discriminado pela sociedade. A síndrome comportamental, como é classificada pelos psiquiatras, prejudica a sociabilização e a comunicação. O diagnóstico não envolve exames, mas sim a observação de itens ligados à interação social, comunicação e movimento repetitivo ou interesse em um único foco.
O autismo começa a se manifestar na criança a partir dos 3 anos e há variação de grau, do leve ao severo. Ocorre quatro vezes mais em meninos do que em meninas. Trata-se de uma alteração multifatorial que afeta mais de 36 genes, que não são mapeados. Uma pesquisa realizada nos EUA em 2006 indica que dez a cada dez mil nascidos vão apresentar autismo. No Brasil, estima-se que existam mais de dois milhões de autistas.
O tratamento, segundo a psiquiatra infantil Márcia Pinho, é feito com a intervenção psicoeducacional e, em último caso, com o uso de medicamentos. “Normalmente o autista tem uma rotina. Quando ele fica exposto a outros ambientes, sente-se incomodado”, explica. A segregação e a discriminação que atingem as pessoas autistas é a principal causa da falta de costume da convivência cotidiana.
O aprendizado também influencia muito no desenvolvimento do autista, mas a tarefa não é fácil. A psicopedagoga Sidenise Estrelado conta que existem duas diferenças: o autista que tem estimulação precoce e o que não tem. No primeiro caso, a criança já possui linguagem, não tem tanto estereotipo (movimentos repetitivos) e não enfrentará muitas dificuldades no ambiente escolar. Já no segundo caso, acontece o contrário e os obstáculos serão maiores.
O segredo para ensinar ao autista, segundo Sidenise, é descobrir como o aluno especial aprende. “Mas você só vai saber na relação diária com ele. Alguns vão aprender como todos, mas outros terão comportamentos diferentes, como ler de cabeça para baixo”, explica. O trabalho em conjunto com a família também é fundamental para facilitar o aprendizado. “O ideal seria o autista estudar em escola de ensino regular. O problema é a falta de especialistas e de pesquisas na área”, lamenta. Ela ainda enfatiza que a intervenção educacional deve ser na fase infantil.
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Falta de ações públicas
Ontem, Dia Mundial do Autismo, uma sessão na Câmara de Vereadores de Salvador abordou o assistencialismo municipal e estadual para os autistas. A falta de ações públicas dificulta a reinserção na sociedade de quem tem a síndrome. Se diagnosticado e tratado desde criança, o autista tem grandes chances de ser independente, ou seja, estudar, se formar, trabalhar e casar.
A dificuldade em descobrir qual o problema que o filho tinha, na época com 3 anos, porque parou de falar motivou Argemiro Garcia e Mariene Marciel a ingressar na Associação dos Familiares e Amigos da Gente Autista (Afaga). Após levar o garoto em inúmeros médicos, o casal descobriu, por meio de pesquisas, que poderia ser autismo. Apenas aos 8 anos, um neurocirurgião em São Paulo diagnosticou a síndrome.
Na Câmara, estiveram presentes representantes dos Amigos do Autista (AMA). A presidente da instituição, Rita Valéria, denunciou a deficiência dos governos em atender as pessoas com autismo. “Na sede da AMA, temos 62 alunos. Mas a espera já contabiliza mais de 300. Então, é preciso exigir ações públicas”, enfatizou. Outra questão é a rede pública de saúde, já que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) não funcionam direito e não há diagnóstico precoce.
Um dos principais problemas, na avaliação da Promotora de Justiça da Defesa das Pessoas com Deficiência, Silvana Oliveira Almeida, é o passe livre. “O transporte é fundamental para essas pessoas. Como os pais vão levar as crianças autistas para o tratamento?”, questiona. Segundo ela, a maioria dos deficientes integra famílias de baixo poder aquisitivo. A medida do corte do passe livre infringe, de acordo com Silvana, o direito de ir e vir previsto na Lei Orgânica do município.