A mudança da largada da prova feminina da São Silvestre para as 16h30 atendeu a reivindicações das atletas, mas não satisfez a todos os participantes. Os deficientes continuarão saindo antes, às 15h15, enfrentando mais sol e, neste ano, correndo para quase ninguém.
As mulheres reclamavam do calor excessivo durante o percurso, cuja altimetria, com várias subidas e descidas, é um fator adicional de desgaste. Várias acabavam a prova esgotadas, e, não raro, havia desmaios.
A mesma dificuldade continuará sendo enfrentada por cadeirantes, amputados, cegos e deficientes mentais. Como consolo, havia o estímulo do público. Não haverá mais.
"Sem a elite feminina, deve haver pouca gente assistindo aos deficientes. Isso deve acontecer", prevê Mário Mello, treinador do Mario's Team, que dirige cadeirantes e amputados.
O esvaziamento ocorrerá no ano em que a São Silvestre alinhará seu número recorde de paraatletas: 131 já confirmados.
"Dependo da confirmação de três ou quatro atletas para fechar esse número", informa Eduardo Santarelli, da ADD (Associação Desportiva para Deficientes), parceira da Yescom na organização de competições de rua desde a Meia-Maratona do Rio, em outubro.
Apesar do horário ingrato, Mello acredita que o sol das 15h15 –na verdade das 14h15, por conta do horário de verão– não será tão abrasador. "Nos últimos três anos, não tem feito temperatura tão alta na prova", pondera o treinador, lembrando que em 2006 choveu durante boa parte da corrida.
Inconformado em colocar seus atletas para correr "sozinhos", Daniel Biscola, diretor técnico da Ciedef (Associação para Integração Esportiva do Deficiente Físico), ainda tentará mudar o horário da prova.
"Vamos ter reunião técnica com a Confederação Brasileira de Atletismo na sexta [hoje]. O ideal seria que a largada dos cadeirantes fosse às 16h. E a dos outros deficientes, às 16h30."
A razão para os cadeirantes largarem antes é técnica. Com os atuais equipamentos, como o hand cycle (espécie de triciclo), é possível um atleta de ponta ***prir o percurso de 15 km em tempo semelhante ao de um corredor de elite.
"Na descida da Consolação, eles atingem até 60 km/h. Lógico que na subida da Brigadeiro essa velocidade é bem menor. Mas um cadeirante bem preparado pode fazer a São Silvestre em uns 45 minutos", aponta Mello –Franck Caldeira, campeão da elite masculina no ano passado correu em 44min07s.
Procurado, Júlio Deodoro, diretor-geral da São Silvestre, afirmou que não haveria tempo para alterar a programação.
"Não é só mudar o horário. Há uma questão logística, de entrega de kits e aviso aos atletas. Além disso, ela não pode atrapalhar as outras provas", diz. "Lógico que mais tarde o público será maior", completa.
Cambistas
Prova de rua mais badalada do país, a São Silvestre virou alvo de cambistas. Em comunidades do site de relacionamentos Orkut dedicadas à corrida, já há atravessadores vendendo inscrições.
Um membro da comunidade oferece vaga por R$ 100 (o preço da inscrição é R$ 70). Para liberar a senha de inscrição para o interessado colocar seus dados no site da corrida, o cambista pede que seja feito depósito bancário.