Em meio às notícias de mudanças no sistema de estacionamento rotativo nas ruas de Campina Grande, um fato novo chama a atenção da sociedade para a chamada "zona azul". Segundo denúncia do presidente da Associação dos Lavadores de Veículos, Jeová Cardoso, até o vice-prefeito do município de Esperança é operador de rua do sistema. Jeová acusa ainda as entidades operadoras de invadir os seus espaços e ameaçar o trabalho de cerca de 200 lavadores.
De acordo com Jeová, as entidades responsáveis pela operacionalização dos estacionamentos estão empregando pessoas em desacordo com o seu fim social, dentre eles, o vice-prefeito Eduardo Jorge Dias Florentino. Pela operação no serviço, o gestor público receberia, segundo o lavador, cerca de R$ 1 mil por mês. Afora o vice-prefeito, o presidente da associação disse que existem pessoas com funções burocráticas diversas e até de pedreiro, serviço não necessário na operação de estacionamento.
"Essas pessoas, a exemplo de Eduardo, estão ocupando vagas de deficientes e soropositivos, e atrapalhando a atividade dos lavadores de veículos, promovendo a ocupação de espaços e, conseqüentemente, deixando pais de família sem condições de trabalho. A FCD, por exemplo, deveria gerar emprego para os deficientes, mas o esquema é outro. Nem mesmo os direitos trabalhistas para com os operadores estão sendo ***pridos. Estão devendo mais de R$ 100 mil na Justiça do Trabalho", afirmou.
Exploração – Jeová acusou a FCD ainda de explorar os operadores com até dez horas de trabalho, não pagar os encargos sociais e estatutariamente não estar legal. Ele disse que solicitou dos gestores municipais uma solução para o problema, enquanto uma representação está sendo feita na Justiça, por conta da invasão dos espaços dos "flanelinhas".
A indignação maior de Jeová é pelo fato de mais cinco ruas serem transformadas em espaço de zona azul, justamente as vias onde trabalham os lavadores, tais como Boninas, Major Juvino do Ó, Getúlio Vargas e João Tavares. "Eles querem tomar conta de tudo e deixar 200 lavadores sem trabalho. O mais interessante é que a FCD e a UCES juntas não têm 50 funcionários e nós temos 200", afirmou.
Flanelinhas acusam operadores de irregularidades
Os flanelinhas também estão denunciando desvio de arrecadação nas entidades, por parte dos operadores. De acordo com Evandro Costa, 40 anos, residente no Bairro das Cidades e lavador na Rua Venâncio Neiva, o problema é grande no sistema. "A gente está cansado de ver eles receberem dos motoristas e botar no bolso sem registrar no talão para a prestação de conta. Eles ficam dando 'migué' e todo mundo sabe disso. Tanto existe 'migué' lá dentro, como na rua", afirmou.
Já José Bejamim Moreira, 22, residente no Novo Horizonte, disse que não existe quase deficiente físico no sistema. Para ele, o que existe são pessoas com saúde movimentando muito dinheiro, visto que mais de R$ 60 mil são arrecadados por mês pelas entidades. Ele disse ainda que vários carros e motos já foram roubados do sistema zona azul, enquanto que com os lavadores não existe um só registro de furto. "Nós somos responsáveis sim, eles não. Eles nem deficientes são. Deficiente sou eu e não estou trabalhando lá, estou aqui lavando carro. Eu quero é saber o que eles fazem com tanto dinheiro", indagou.
Quem também está preocupado com o problema é o flanelinha Jurandir da Conceição, 38, residente no Jardim Europa. Ele disse que os lavadores dependem totalmente dos seus locais para trabalhar. Ampliar o número de ruas para o zona azul prejudicará os flanelinhas, segundo ele, porque eles perderão os seus espaços. Jurandir afirmou que um flanelinha ganha cerca de R$ 400,00 por mês, lavando carro. Disse também que chegam cedo e saem tarde, não têm direitos trabalhistas e não reclamam da situação se os operadores da zona azul não o perturbarem. Jurandir acredita que cerca de 300 lavadores sobrevivam da atividade em Campina Grande.
STTP confirma ampliação de ruas para estacionamento
O assessor técnico da Superintendência de Trânsito e Transporte Público (STTP), Thadeu Guimarães, disse que realmente está sendo traçada uma mudança no sistema de zona azul de Campina Grande. O plano é ampliar o número de ruas, colocando mais cinco vias no sistema, acabar com a zona verde e estipular um tempo de permanência no estacionamento.
Segundo Thadeu, a idéia ainda está sendo estudada e só deverá ser colocada em prática depois de uma reunião com a Associação Comercial, Câmara de Dirigentes Lojistas, União Campinense de Entidades Sociais, Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes e Associação dos Lavadores de Veículos. "Antes de uma discussão com as categorias nada será colocado em vigor", asseverou.
Por sua vez, o vice-presidente da CDL, Antônio Hamilton Fechine, sugeriu que o tempo de permanência nos estacionamentos continue sendo de duas horas, mas com a não-obrigação de deixar o local. "Depois das duas horas seria cobrada uma nova permanência integral ou de acordo com os minutos passados; uma taxação progressiva ou regressiva, não sei, mas nunca com a obrigação de sair.
Já pensou você sair para fazer algumas compras, o tempo não lhe permitir concluí-las e aí ter que largar tudo e correr para o estacionamento tirar o carro e procurar um outro lugar? Isso é uma burrice tamanha. Eu não acredito que a STTP nem as entidades queiram aprovar isso", disse.
O vice-presidente da Associação Comercial, Frederico Menezes, disse que a entidade ainda não emitiu parecer sobre este assunto. Porém, ele disse apoiar a ampliação dos estacionamentos na área central e a estipulação, de uma vez por todas, de um horário de carga e descarga na Rua João Pessoa, nos dias úteis.
De acordo com o empresário, o horário mais oportuno é a partidas das 14h. No tocante ao tempo de permanência nos estacionamentos, ele disse que a ACCG vai amadurecer a proposta com a categoria para depois decidir.