As dificuldades de comunicação dos deficientes auditivos brasileiros com a sociedade são rotineiras. Para garantir o direito das pessoas surdas à inserção social, as instituições governamentais e empresas privadas devem proporcionar condições para a melhoria desta relação. Visando atender essa necessidade, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-MT) promove cursos da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para empresas do Estado. Nesta semana, 30 funcionários do Banco Bradesco participam do curso, que está sendo realizado no Hotel Mato Grosso.
A pedagoga surda, Elizabeth Novaes Betroni e a coordenadora da unidade de Educação Especial (Uede) do Senai-MT, Denise Molina, dividiram os alunos em duas turmas, uma das 8h às 12h e a outra das 13h às 17h. Um funcionário de cada agência Bradesco de Cuiabá e Várzea Grande, dos mais variados departamentos, foi selecionado para participar do treinamento. “As aulas são expositivas, com a demonstração dos sinais, diálogos de vivência do dia-a-dia dos surdos e também por meio de vídeos”.
Segundo Denise, o curso foi desenvolvido especificamente para o Banco Bradesco, utilizando termos bancários. “Estamos preparados para atender as empresas que se interessam em capacitar seus profissionais para a comunicação com os Portadores de Necessidades Especiais (PNE´s)”. Ela disse ainda que o gerente de Recursos Humanos do Bradesco Centro-Oeste, Francisco Oliveira, demonstrou interesse em realizar uma segunda etapa do curso para capacitar mais funcionários.
O vice-presidente da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), Marcelo Silva Lemos, diz que por ser surdo, sente o preconceito social. “Há certa organização para atender o cego e o deficiente físico, mas não o auditivo. Isso acontece, cotidianamente, em especial nos bancos, que não possuem intérpretes e a maior parte do atendimento é feito por telefone. Além disso, as pessoas se assustam quando percebem que eu não ouço, pois não sabem como lidar comigo”, diz.
Para a funcionária do Banco Bradesco, Jane Paula Palma, que trabalha há quatro anos na agência Coxipó, as aulas estão sendo perfeitas e a paciência e ética profissional das professoras é impressionante. “Estamos muito empolgados com o curso. Eu nunca quis aprender outros idiomas, mas agora sinto que tenho vocação e com certeza vou procurar fazer outros cursos de Libras muito em breve. Já comecei a pesquisar em livros e revistas. Me apaixonei pela língua”, diz, maravilhada.
Segundo ela, as 40 horas de treinamento servirão para atender os portadores de necessidades especiais. “Não estamos totalmente qualificados, mas os deficientes auditivos também nos ajudam bastante. Com a força de vontade que eles têm a comunicação se tornará mais fácil”, avalia.
LIBRAS – A Língua Brasileira de Sinais é reconhecida pela lei n° 10.436/2002 como meio legal de comunicação e expressão. Tem estruturas gramaticais próprias, composta pelos níveis lingüísticos de qualquer outra língua: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos.
O que diferencia as línguas de sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial. Cada país possui a sua própria língua de sinais, que sofre as influências da cultura nacional. A Libras tem sua origem na Língua de Sinais Francesa. O curso teve início no dia 16 e será encerrado amanhã (26.04). O material didático distribuído aos alunos está todo em Libras e tem todos os sinais bancários. Outras informações pelo telefone (65) 3611-1560.