ACESSIBILIDADE

Acessibilidade ao deficiente vai além do espaço da universidade

Devido às seqüelas de uma artrite reumatóide sofrida na juventude, a pedagoga Anamaria Brandi Curtú, 40, precisa de muletas para se locomover. A deficiência física é o principal fator em seu histórico de exclusão escolar, que atrasou sua formação.

Hoje, cursando mestrado na Unesp de Araraquara, ela encara novos desafios para continuar seus estudos. Sem poder se locomover por muito tempo com as muletas, a diretoria da instituição precisou providenciar uma cadeira motorizada. “Até o ano passado eu assistia apenas a uma disciplina como aluna especial. Agora preciso ir para vários departamentos e sem a cadeira motorizada isso é impossível”.

As aulas de Anamaria começaram na última semana, mas desde que foi aprovada, em janeiro, enviou ofício solicitando o equipamento.

“Sofri dores intensas no corpo pelo esforço que fiz no início das aulas. Nesta semana não pude sair de casa”.

Para ela, apesar de o Ministério da Educação ter criado garantias de inclusão, a realidade é bastante diferente.

Cadeirante, a publicitária Vanessa Cornélio, 29, que se formou em 2006, vai além em sua reflexão: “Fala-se muito da acessibilidade dentro do espaço físico da faculdade, mas e o acesso do portador de deficiência até a instituição. Muito ainda precisa ser feito, principalmente no que se refere ao transporte público”, defende.

Universidade aluga cadeira
Sem nenhum portador de deficiência física em seu quadro de alunos, a Unesp de Araraquara precisou alugar uma cadeira motorizada para atender as necessidades de Anamaria Brandi, mestrando na área de pedagogia.

A confirmação foi feita ontem pela diretoria do câmpus, que justificou a demora devido a uma negociação de preços.

Ontem, a pedagoga também fez um protesto na entrada do câmpus para sensibilizar universitários sobre os obstáculos do deficiente no acesso ao ensino. “Sou professora em uma faculdade de Bebedouro e preciso do mestrado para poder continuar com as aulas. O sacrifício é grande”, desabafa.

Principais garantias

* Acessibilidade à comunicação de alunos com deficiência em todas as atividades acadêmicas

* Aquisição de equipamentos e materiais para a promoção da acessibilidade

* Aquisição e adaptação de mobiliário em diferentes ambientes

* Reforma em edificações para acessibilidade física

* Formação de professores e técnicos para atuação com alunos com deficiência

* Contratação de pessoal para os serviços de atendimento educacional especializado

Fonte/Decretos 5.296 (2004) e 5.626 (2005)

Faculdades ajustam-se e dão descontos
Instituições particulares também se ajustam para facilitar o acesso do portador de deficiência ao ensino superior. Em algumas delas, também é concedido desconto na mensalidade.

É o caso da Unifev, onde o abatimento no preço do curso pode chegar a 50%. “Isso não pode ser encarado como uma caridade em função da deficiência, mas sim por causa dos gastos pertinentes a ela. A bolsa é concedida mediante laudo médico e cálculo de gastos”, destaca Valéria Gallo, do SAE (Serviço de Atendimento ao Estudante).

“Todos os anos, a disposição das salas é feita de acordo com as necessidades dos alunos. Além disso, há preocupação com o acesso aos laboratórios, que se encontram todos no térreo e com rampas de acesso”, acrescenta o supervisor operacional da Unifev Willian de Poltronieri Mello.

A faculdade conta com universitários com deficiências visuais, auditivas e locomotoras, buscando proporcionar recursos técnicos para cada perfil.

Banheiro é uma das maiores necessidades
Para a publicitária recém-formada Vanessa Cornélio, 29, de Votuporanga, a acessibilidade do portador de deficiência no espaço urbano é mais problemática que no ambiente da faculdade.

Cadeirante depois de um acidente de trânsito, ela se formou na Unifev e destaca a atenção dada pela instituição. “Mas, e para se chegar até a faculdade?”, questiona a publicitária.

Apesar de não ser ideal, Vanessa diz que é possível se virar com a estrutura física oferecida por muitas instituições. No entanto, um quesito é fundamental. “Para quem anda de cadeira de rodas ir ao banheiro é difícil, ainda mais quando o espaço não é adaptado”.

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