Os atletas paralímpicos brasileiros conquistaram em Londres o melhor resultado do país na Paralimpíada. Em 2016 será a vez do Rio de Janeiro receber deficientes físicos de todo o mundo para a competição. O desafio por aqui – além da busca por medalhas – será enfrentar os obstáculos de uma cidade que por muito tempo ignorou os que possuem alguma deficiência.
Diariamente, os mais de 2 milhões de deficientes que vivem no Estado do Rio esbarram na falta de acessibilidade das ruas e dos transportes para realizar suas tarefas rotineiras. As calçadas esburacadas e a falta de rampas de acesso dificultam a circulação dos cadeirantes pela cidade. Pessoas com deficiência visual não contam com o auxílio de aviso sonoro nos sinais de trânsito.
Segundo a diretora do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência(IBDD), Teresa Amaral, o transporte público continua sendo o maior problema. As estações de trem não são adaptadas, nem os vagões. No metrô, as reclamações são contra o mau funcionamento dos elevadores e o sistema de som que, muitas vezes, não informa em que estação está a composição.
Os ônibus, no entanto, começam a ser adaptados. De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes, a cidade do Rio possui 8.600 ônibus e 56% da frota é adaptada para deficientes. Em 2008, o decreto 29.896 estabeleceu que toda a frota deve se ajustar até o final 2014.
Teresa afirma que utilizar o trem é sempre um transtorno, e que o sistema de transporte BRT (Bus Rapid Transit) – principal obra de mobilidade urbana relacionada aos grandes eventos que o Rio receberá – não foi bem planejado para os deficientes: “A rampa do BRT que acaba de ser feito é muito inclinada. Das 90 estações da Supervia, apenas Manguinhos e Bonsucesso são acessíveis”
Segundo ela, o Rio decepcionará os turistas que chegarão à cidade para a Paralimpíada. “Não estamos preparados para os nossos deficientes, ainda mais para receber os que vêm de fora”, alerta.
O estudante de jornalismo, Luciano Alves, ficou tetraplégico em 2002 após se acidentar nas pedras do Arpoador. Ele conta que as atividades do cotidiano são atrapalhadas desde a porta de sua casa, tanto pela falta de acessibilidade, quanto pela falta de educação das pessoas:
“Saindo de casa, a calçada já não tem rampa de acesso. Mesmo que eu consiga subir, ela é toda esburacada e os carros estacionam em cima. Então temos que andar na rua, nos expondo a riscos”
Ele está no último ano do curso de jornalismo e diz que só conseguiu frequentar a faculdade graças à carona de um amigo. Segundo diz, na maioria das vezes os ônibus não são acessíveis e quando são “muitas vezes o elevador não funciona, ou o motorista não sabe operar”. Lembra ainda que nenhum ônibus que faz integração com o metrô é adaptado. “Se depender da integração não chegamos a lugar algum”, adverte.
Pelas suas explicações, a Zona Sul é a parte da cidade que apresenta melhores condições de acessibilidade. Ele critica o Centro, uma vez que concentra as maiores oportunidades de emprego e deveria servir de modelo, no entanto, afirma que lá é “precária a acessibilidade nas calçadas”. Luciano até admite que houve melhorias: “É precário com relação ao ideal de uma cidade inclusiva, mas houve melhora”.
Power Soccer
As Paralímpiadas de 2016 podem aproximar Luciano do sonho de ver o esporte que pratica estreando na competição. Ele joga Power Soccer, modalidade paradesportiva que basicamente é um futebol para cadeirantes. Os jogadores utilizam cadeiras de rodas motorizadas, equipadas com grade à frente que servem tanto para proteção como para conduzir a bola. A modalidade é reconhecida pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC) e a expectativa da Associação Brasileira de Futebol em Cadeiras de Rodas (ABFC) é de que possa fazer parte das Paralimpíadas já me 2016, no Rio.
O Power Soccer pode ser praticado por pessoas com comprometimento severo dos membros superior e inferior pois utiliza uma cadeira motorizada. “O esporte representa inclusão social, motivação. E o Power Soccer possibilita a participação de pessoas que ficavam fechadas em casa, sem a menor condição de praticar um esporte”, explica Luciano.
Ele lembra, no entanto, que por conta da falta de incentivos, o esporte fica restrito às pessoas com acesso aos equipamentos necessários. “A ABFC está buscando apoios para poder oferecer o esporte a todos porque existem milhares de pessoas sem condições de ter uma cadeira motorizada para poder jogar”
Fonte: Jornal do Brasil