Mobilidade urbana, leia-se acessibilidade, nas grandes cidades é cada vez mais problemática. E causa um grande impacto na qualidade de vida das pessoas. Entende-se por mobilidade urbana a capacidade de deslocamento de pessoas e bens no espaço urbano para a realização das atividades cotidianas em tempo considerado ideal, de modo confortável e seguro.
Em outras palavras, é conseguir se locomover com facilidade de casa para o trabalho, do trabalho para o lazer e para qualquer outro lugar onde se queira ir por vontade ou necessidade de estar, independentemente de se ir a pé ou de carro. E isto está cada vez mais difícil. E quanto mais problemática, maior o custo ao poder público e a sociedade, em virtude das perdas que proporciona.
Ter mobilidade urbana é pegar o ônibus com a garantia de que se chegará ao local e no horário desejados. É ter alternativas e poder se deslocar a pé, de bicicleta ou com o transporte coletivo. Acessibilidade é dispor de ciclovias e, principalmente de calçadas que garantam o acesso aos deficientes físicos e aos visuais. E poder pegar, inclusive, o carro e ir onde se quer, no horário que se quer, sem a preocupação de ficar preso em engarrafamentos.
Isso tudo fica pior em locais onde o adensamento urbano se deu de forma desordenada e rápida, impedindo planejamento e estrutura adequada, como na cidade do Rio Grande. Aqui, tanto pedestres quanto motoristas sofrem. E quanto maior a dificuldade das pessoas, pela incapacidade física (deficiência ou idade e até mesmo de pais com carrinhos de crianças) maior os empecilhos de locomoção encontrados.
Em nossa cidade, praticamente em todos os semáforos, existe a faixa de segurança. Salvo raras exceções, não há rampas de acesso que levam o deficiente físico, ou visual, ou o idoso, de um lado da calçada ao outro. Na esquina das ruas Vice-Almirante Abreu com 24 de Maio, não tem rampa, assim como na Silva Paes, esquina com a Duque, Andradas com General Bacelar e Andradas com República do Líbano, só para citar alguns exemplos. Na Silva Paes, em frente ao Fórum, há duas rampas de acesso à calçada, uma pela própria Silva Paes e outra pela Benjamin Constant. Nesta, a rampa está apenas pela metade. A outra metade está quebrada. E são ruas e esquinas com um fluxo de veículos e pedestres intenso.
Também não há rampas de acesso em toda rua Duque de Caxias, na Benjamin Constant, em toda extensão da República do Líbano, da rua Andradas até a Marechal Floriano Peixoto e da Andradas até a República do Líbano. Nesta rua, esquina com a Zalony, existe uma rampa de um lado da calçada, mas não do outro. Se na área central podemos contar nos dedos as rampas de acesso existentes, nos bairros e ruas não tão centrais, fica tudo pior. E não são apenas calçadas sem acesso. Prédios públicos também não apresentam essa acessibilidade, a exemplo do prédio da Prefeitura e da Biblioteca Municipal, assim como de vários outros prédios de serviços, à exceção de prédios onde existem clínicas.
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Deficientes, idosos e carrinhos de criança são os grandes prejudicados
E são empecilhos como estes que atrapalham a vida de pessoas como Daniel de Oliveira. Cadeirante, tem na rotina diária uma série de obstáculos que precisa transpor para poder se deslocar. Segundo ele, que demonstra na prática o quanto padece para subir e descer de uma calçada com sua cadeira de rodas, Rio Grande é péssima para quem tem deficiência física. “Só temos rampas se utilizarmos as de acesso a garagens. E nem sempre conseguimos, pois, muitas vezes, há motos e veículos estacionados na frente”. E sem contar com os prejuízos financeiros, já que a cada descida de calçada, é um impacto a mais nos ralamentos e rodas. “Minha cadeira está sempre na manutenção”, garante.
A alternativa, frisa Daniel, é ao descer de uma calçada por uma entrada de garagem, disputar espaço na rua com os carros, até conseguir outro acesso de garagem. Conta que até agora só conseguiu entrar facilmente na Câmara de Vereadores, isso depois da reforma que fizeram, acrescentando rampas. O casal Diego Da Rosa e Aline Calvate, empurrando um carrinho com o bebê, e carregando outro no colo, diz que é muito difícil se deslocar na cidade. “Usamos geralmente uma garagem próxima para poder atravessar. Mas quase sempre há carros estacionados”, salientam. Aline acrescenta que na rua 24 de Maio há rampas, mas várias vezes não pode utilizar. “Quase sempre tem carros estacionados”.
Com 75 anos, Walter Tajes Lopes é outro que ressalta a dificuldade de se locomover no Rio Grande. “Além de serem poucas, as rampas de acesso sempre têm veículos estacionados na frente. Temos um grande problema no trânsito aqui em nossa cidade. Não há respeito mútuo. As pessoas não aprenderam a se educar”. Paulo Ricardo Pascal, cuida de lojas na rua República do Líbano e conta que ajuda de dois a três cadeirantes por dia. “Além de não existir rampas, as calçadas e ruas são estreitas, dificultando que estas pessoas possam andar tranquilamente”.
Alaíde Schmidt, com 90 anos, cita, além da falta de rampas e dos meios-fios altos, a dificuldade que tem em se deslocar em ruas que possuem rotatórias. “Aí, sim, é difícil. Tenho que atravessar a rua, subir na rotatória e esperar para atravessar de novo. E sem local adequado de acesso”.
Por Anete Poll
anete@jornalagora.com.br