Faltam profissionais qualificados e agentes de bordo no transporte público de Sorocaba prestar auxílio Tatiane Patron
Apesar de 86% do sistema de transporte público coletivo ser adaptado aos deficientes físicos (329 de 384), oferecendo o equipamento de elevação, ainda falta preparo tanto de motoristas quanto de agentes de bordo, o que pode ocasionar acidentes.
Há quatro anos paraplégico, depois de sofrer um assalto, o aposentado Paulo Roberto Rodrigues, 60 anos, mudou totalmente a rotina. De 15 em 15 dias tem de ir ao Hospital Regional para fazer o curativo de escara. Sempre levado pelos filhos ou de táxi especial, desta vez quis sentir a sensação de liberdade e experimentar o transporte público.
O que Paulo imaginava ser apenas uma viagem de volta para casa, se transformou em pesadelo. A falta de preparo dos motoristas e a pouca utilização do equipamento de elevação ocasionaram a queda do aposentado, que fraturou os dois joelhos e terá de ficar de cama por dois meses. “O motorista parou o ônibus [linha Júlio de Mesquita] longe da calçada e perguntou se conseguia descer para ir até a plataforma.
Disse que não. Ele tentou me descer de frente e cai”, conta sobre o episódio que ocorreu na semana passada, dentro do Terminal Santo Antônio. “Queria ter um pouco de liberdade, mas não posso ser totalmente independente”, lamenta. “Infelizmente os motoristas não estão preparados”, complementa.
O transporte
Para mostrar como um portador de deficiência física se locomove pela cidade, o BOM DIA acompanhou o aposentado Magdo Donizetti de Oliveira, 45, da sua casa, no Jardim Santa Terezinha, até a Aderes (Associação de Deficientes da região de Sorocaba), na Vila Angélica.
De carro, o percurso pode ser feito em até 20 minutos. Já de ônibus, Magdo levou uma hora. O aposentado revela que todos os dias antes de sair para algum compromisso, liga na Urbes para constatar se o veículo adaptado está funcionando normalmente. “A plataforma pode estar quebrada”, justifica.
Durante o trajeto, as dificuldades são encontradas na porta de casa, pois as calçadas não são niveladas. Magdo tem de descer pelo meio da via, correndo risco de ser atropelado.
Na avenida Afonso Vergueiro, as calçadas não têm rampa de acesso para chegar ao ponto de ônibus.
O veículo da linha Júlio de Mesquita chega com sete minutos de atraso. O motorista é solidário com Magdo e o ajuda subir na plataforma. A elevação demora quatro minutos. A viagem até o Terminal Santo Antônio é tranquila, apesar da superlotação.
No desembarque, no Terminal Santo Antônio, os passageiros descem do coletivo antes do portador de deficiência. Ele vai até o ponto da linha Vila Angélica e tem de esperar cerca de 20 minutos. Assim que o ônibus chega, Magdo se depara com mais uma dificuldade: o veículo está estacionado longe da calçada – caso parecido com o que ocorreu com Paulo. O aposentado, então, tem de solicitar ao motorista para que manobre o ônibus.
Sem o auxílio de um agente de bordo, Magdo se acomoda no lugar reservado e põe o cinto de segurança.
Próximo do seu destino final, ele desce sozinho e segue até a Aderes pela rua, já que é impossível transitar pela calçada.
Depois de uma hora passando por obstáculos, Magdo conclui sua opinião sobre o transporte público. “É impossível viajar num ônibus que não é adaptado”, afirma.
Segundo ele, “no município, a maioria dos veículos está adaptado. Foram contratados agentes de bordo, mas não nos ajudam. Com sorte, quem ajuda é o motorista”. Magdo conclui: “Os funcionários são treinados, mas não auxiliam. Os demais passageiros também não são gentis. O que resta é nos adaptar ao transporte coletivo e não ele a nós”.
Urbes não tem controle de uso
Empresa desconhece quantos deficientes usam ônibus em Sorocaba. Só acha que aumentou
A Urbes alega que não há nenhum registro do acidente sofrido pelo aposentado Paulo com os fiscais dos terminais ou com a Guarda Municipal. A família do senhor, no entanto, afirma que fez a reclamação, mas o atendente não deu importância ao fato.
A operadora foi orientada a informar melhor os colaboradores no sentido de relatar as ocorrências, independentemente da gravidade.
O atendimento dado aos portadores de deficiência física pelos condutores e agentes de bordo conta com treinamento periódico oferecido pelas concessionárias.
Já a plataforma é destinada a pessoas que apresentem limitações físicas para uso dos degraus como, por exemplo, os cadeirantes e idosos com andadores.
A Urbes esclarece que em casos de acidentes no transporte coletivo, deve ser acionamento o Resgate, registrar boletim de ocorrência e a empresa acompanha a vítima.
A quantidade de cadeirantes circulando pelos terminais está aumentando, mas a Urbes não tem o número exato desses passageiros.
As concessionárias têm até dezembro de 2014 para cumprir as normas de acessibilidade no transporte. A Consor (Consórcio Sorocaba) já conta com 100% da frota com plataforma e a STU (Sorocaba Transporte Urbano) tem 73%.
Os portadores de deficiência física podem obter a credencial especial na Secretaria de Cidadania, que fica na rua Santa Cruz, 116, e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.
10% do total da população de Sorocaba possuem algum tipo de deficiência: física, auditiva, intelectual, visual ou nanismo
Fonte: Rede Bom Dia – SP