A adrenalina sobre duas rodas emocionou o instrutor de esportes radicais Everaldo de Sá, mais conhecido como Vavá. Mas nada de moto ou bicicleta. A emoção foi sobre a cadeira de rodas. Num projeto inédito, a equipe de Vavá, Snake, promoveu no começo deste mês a socialização entre atletas deficientes e a emoção do rapel. “Em mais de doze anos como instrutor de esportes de aventura nunca senti uma emoção tão grande”, falou Vavá mostrando o braço arrepiado. “É mesmo de arrepiar, cara. A emoção dos cadeirantes é algo inesquecível. Quando muitos poderiam pensar que essas pessoas não poderiam, a gente acreditou no potencial deles e promoveu essa ação”, comenta ele.
O evento em que os cadeirantes puderam sentir na pele o que é descer de uma corda a mais de 30 metros do chão por um guindaste marcou o encerramento dos Jogos da Adefica
– Associação dos Deficientes Físicos de Cascavel.
Antes desse fato, algo incomodava Vavá. “Tenho um grande amigo que ficou de cadeira de rodas depois de um acidente de moto, o Carlinhos. Ele sempre me falava que o sonho dele era fazer rapel. Isso mexeu comigo, sabe. Aí surgiu a ideia. Todos os anos fazemos com a equipe um projeto para beneficiar quem não tem a oportunidade de fazer esse esporte. Sempre atendemos a população mais carente, algo que também é gratificante. Quando um menino de pés descalços olha pra você e agradece, você fica feliz, mesmo, de ter ajudado a proporcionar alegria a essa pessoa. Com os cadeirantes não foi diferente. Queremos, à partir dessa última ação, trabalhar mais com essas pessoas. Essas supostas limitações dos deficientes não impedem deles fazerem aquilo que desejam fazer”, completa.
Terra, água e ar
Mas não é só o rapel que Vavá pratica. “Onde existir esportes que envolva natureza, estamos dentro. Perdi as contas de quantos alunos formei enquanto instrutor. Acredito que de cada cem, pelo menos noventa atletas tenham aprendido comigo. E isso é bem legal, porque o esporte de aventura ou esporte radical tem a filosofia de integrar o praticante com a natureza”, observa.
Formado na Equipe Leões da Montanha, na cachoeira de Macacu no Rio de Janeiro, Vavá passou pelo exército em operações de resgate. Desde os 12 anos (hoje está com 31), é ligado a atividades radicais. Entre suas atividades, está a de palestrante para vários cursos superiores. “Na faculdade faço palestra para vários cursos, como Hotelaria, por exemplo. De como explorar o turismo esportivo na natureza. Também no curso de biologia, vai que o pesquisador precisa subir uma montanha para estudar uma espécie de planta? Aí ele já sai da faculdade sabendo o básico para a escalada”, explica.
Além do montanhismo, que abrange rapel e escalada, o esporte de aventura agrega parapente, raffting e pêndulo (onde o praticante se lança de uma ponte devidamente equipado e fica ‘balançando’). “é uma adrenalina saudável. Quem pratica consegue esquecer-se de tudo e limpar a cabeça”, completa Vavá.
A melhor “droga”
“Não existe coisa mais viciante do que a adrenalina”, conta Vavá enquanto fala do projeto no qual trabalha com dependentes químicos. “Teve uma ocasião que um rapaz chegou e entregou na minha mão o cachimbo e umas pedras de crack e disse que tinha encontrado algo que o satisfazia, que é o esporte. Essa é a intenção maior de estar perto da natureza contemplando o que é realmente bom”, conta. Segundo o instrutor, a maior “viagem” que uma pessoa pode fazer não é destruir a saúde, mas experimentar a emoção de um esporte radical.
Para se mexer no verão
O verão está aí e com ele a possibilidade de sair do lugar comum. Para os interessados em atividades que modificam a rotina de ficar em casa jogando vídeo-game, o telefone de contato de Vavá é 9988 9132. “Umas das paradas mais incríveis que eu já vi é o chamado ‘mar de nuvens’, quando a gente sobe uma montanha, acampa por lá e no raiar do dia olha para o horizonte e contempla sob nossos pés, as nuvens. Não tem palavras que justifiquem aquilo. Por isso vale muito à pena, com toda a segurança, praticar um esporte que estimule a adrenalina, limpe a cabeça e coloque você em contato com a natureza”, finaliza Vavá.