Por meio de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (SEE) e o Ministério da Educação (MEC), Alagoas vem recebendo, desde o ano passado, recursos que são investidos na acessibilidade das escolas, o que tem melhorado o deslocamento desses alunos dentro das instituições de ensino. A verba varia de R$ 14 mil a R$ 24 mil, a depender da quantidade de alunos deficientes em cada unidade escolar.
“O dinheiro é investido no alargamento das portas, na adaptação dos banheiros e até na implantação de sinalização sonora”, conta a gerente de Educação Especial da SEE, Joelina Cerqueira.
A existência de intérpretes também é algo que tem feito a diferença na vida dos deficientes auditivos, que enxergam na educação a garantia de um futuro promissor. Com a ajuda desses profissionais, os alunos portadores dessa deficiência se misturam aos ouvintes e aprendem, junto com eles, o que está sendo passado pelo professor, cada um a sua maneira.
Alagoas possui atualmente 54 intérpretes de libras nas salas de aula, o que é apontado como motivo para que o número de alunos com deficiência auditiva crescesse consideravelmente nas escolas nos últimos anos. Para se ter uma ideia, em 2001, eram 200 alunos surdos nas salas de aula em todo o Estado e hoje essa é a quantidade de alunos com deficiência auditiva existente em apenas uma unidade de ensino, a Escola Estadual Tavares Bastos.
Segundo a diretora adjunta da escola, Thâmara Carnaúba, a Tavares Bastos possui intérpretes em 23 turmas distribuídas nos três turnos. “Nós somos referência no quesito inclusão. O sonho de todo surdo é estudar aqui”, afirma.
Mesaque Constâncio dos Santos, 20 anos, é um desses alunos. Ele conta que o processo de inclusão dos deficientes auditivos no sentido de assistirem às aulas junto com os alunos ouvintes existe desde que ele começou a estudar, mas que somente quando cursava o 3º ano do Ensino Fundamental, os intérpretes começaram a atuar nas salas de aula.
Hoje, cursando o 1º ano do Ensino Médio, ele avalia que tudo teria sido mais difícil sem a ajuda deles. “Na sala de aula existe uma troca. Enquanto os ouvintes procuram conhecer a linguagem de sinais para se comunicar conosco, nós buscamos compreender melhor o português, que na verdade é a nossa segunda língua. A presença do intérprete facilita muito na hora de tirar dúvidas”, conta.
Mesaque não é o único surdo na família. Ele possui dois tios com a mesma deficiência. Mas ao contrário deles, que não prosseguiram com os estudos, o jovem vem correndo atrás de seus objetivos. Desenhista de mão cheia, ele tem o sonho de chegar à universidade e de cursar arquitetura. Consciente da importância da educação na vida de qualquer pessoa, Mesaque critica os deficientes que se acomodam e que não buscam melhorias, apesar das grandes dificuldades encontradas por todos eles ao longo do caminho. “A falta de escolaridade dos surdos é uma das razões para os entraves encontrados principalmente no mercado de trabalho”, diz.
Mirtes de Melo Cavalcante se orgulha de ser intérprete há 7 anos. “Muito do que eles aprendem é fruto do próprio esforço. Quando acabam as aulas, eles continuam na escola para sugar o máximo que puderem de nós. Em relação a outros estados, Alagoas já está bem avançado, pois possui um intérprete em cada sala de aula [que possui aluno deficiente]. Em outros lugares existe apenas um intérprete para a escola toda”, diz.
Dados
Segundo Gardência Santana, do Centro de Referência Estadual em Saúde do Trabalhador (Cerest), o último censo apontou para a existência de 104.177 surdos no Estado, sendo que 32.407 residem em Maceió.
A Escola Estadual Cyro Accioly — que em breve vai passar a se chamar Centro Estadual de Atendimento Especializado para Deficientes Visuais Cyro Accioly — também tem garantido um atendimento complementar aos deficientes visuais do Estado, que frequentam o espaço no horário contrário ao de aula. Lá, eles contam com atendimento especializado que abrange tanto a parte educacional quanto a comportamental.
São aulas de apoio pedagógico (reforço escolar) em Braile — para os que perderam a visão totalmente – e em letras ampliadas — para os que possuem a baixa visão; aulas de leitura e escrita em Braile; alfabetização em Braile e em letras ampliadas; assinatura cursiva; datilografia; informática, educação física, atividade de vida autônoma e pessoal (que ensina como o deficiente visual deve se comportar nas mais diversas situações) e até atendimento psicopedagógico.
Qualquer deficiente visual — seja total ou de baixa visão — pode usufruir dos serviços oferecidos na Cyro Accioly. “Aqui é uma escola pública. Qualquer pessoa, de qualquer idade pode vir fazer a matrícula em qualquer época do ano”, falou Josira Pereira, uma das coordenadoras da escola, que atualmente tem 120 alunos matriculados.
José Silvio Martins decidiu se matricular na Cyro Accioly somente no ano passado, depois de resistir muito em assumir a perda total da visão. Hoje, ele frequenta as aulas de reforço escolar e, assim como Mesaque, sonha em entrar para a universidade.
José Silvio sofre de retinia pigmentada, catarata e de uma outra doença que não foi diagnosticada. Desde 2004 não consegue enxergar. Ele, que havia parado de estudar há 25 anos, encarou o problema, voltou a estudar e, no próximo ano, conclui o Ensino Médio na Escola Estadual Rodrigues de Melo e já pretende prestar vestibular.
“Desde que eu comecei a frequentar as aulas de reforço, a vontade que eu tinha de fazer teologia só cresceu. Hoje penso em cursar também história e me tornar um professor”, falou.
A professora Ana Maria Gondin, que também é deficiente visual, conta que se sente muito feliz em poder contribuir para a alegria dos alunos, por meio da inserção deles no mundo escolar, no mundo dos livros. “Para mim é gratificante até porque eu aprendo muito com os meus alunos. Eu me sinto uma pessoa muito feliz em poder colaborar com a felicidade dos outros”, conta.