Deixar portas entreabertas e objetos no chão. Brincar com o cão-guia quando ele está a trabalho ou puxar o deficiente visual pelo braço sem mesmo saber se ele quer atravessar a rua. Rir de uma piada sem explicá-la a quem é deficiente auditivo e está na sua rodinha de amigos. A lista de gafes está nas páginas de um livro recém-lançado, que serve como uma espécie de guia sobre como entender e atender melhor um deficiente.
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Para mostrar o mundo vivido por deficientes, a jornalista Claudia Matarazzo lançou “Vai Encarar? A nação (quase) invisível de pessoas com deficiência” este mês. Escrito em primeira pessoa, ela ensina de que maneira lidar com homens e mulheres com problemas físicos ou neurológicos.
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A obra mostra como tratar corretamente deficientes. E dá espaço também para que deem seus depoimentos. Conta histórias surreais, como a de uma jovem tetraplégica que esperava o namorado em uma calçada de São Paulo. Enquanto ele estacionava o carro, uma mulher passou e jogou moedas no colo da moça, que nem teve tempo de reagir. Achou que ela era uma pedinte.
Lançada pela Editora Melhoramentos, a publicação fala das dificuldades, das boas ou ruins experiências do cotidiano de um deficiente. Fala de como é ruim andar de cadeiras de rodas em ruas sem rampa ou cumprir a simples tarefa de sair para comprar roupas. A consultoria é da vereadora paulistana Mara Gabrilli (PSDB), que é tetraplégica.
Claudia Matarazzo entende de festas, recepções com autoridades e etiqueta de maneira geral. É a responsável pelo cerimonial do governador de São Paulo, José Serra. No livro, dá dicas de como não falhar ao receber em casa uma pessoa com deficiência. Se o convidado se locomove em cadeira de rodas, o ideal é remover tapetes, afastar móveis, retirar do chão pequenos obstáculos, como esculturas, vasos ou brinquedos.
Posição relojinho
Outra situação: no jantar com os amigos, um deles é deficiente visual. Segundo Claudia, a cortesia começa no portão, onde o anfitrião deve estar para receber o convidado. Se houver uma escada no caminho, é cortês informar o número exato de degraus para evitar acidentes. “Etiqueta é bom senso. Você aplica isso à deficiência das pessoas. O que não pode é criar uma barreira de atitude, criar um muro”, afirma Claudia.
À mesa, o dono da casa deve descrever o que será servido. “Uma delicadeza extra seria preparar um cardápio que dispensasse o uso de facas, como picadinhos, massas e risotos”, explica a jornalista no livro. Outra maneira é explicar a disposição da comida no prato, como em um relógio. “Na posição três, tem um pouco de mandioquinha; na seis, está o arroz; na nove, a carne”, ensina Claudia, autora de outros 11 livros.
Foto: Carolina Iskandarian/ G1
Portas entreabertas são um perigo para os deficientes visuais (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
Portas entreabertas
Pecado mortal é receber um deficiente visual e esquecer as portas da casa entreabertas. Como não conhece o ambiente, a testa dele é a primeira que sente o impacto. “Você vai andando e encontra uma quina pela proa. A pessoa (que deixou a porta aberta) fica desconcertada. Pede mil desculpas”, conta o consultor em informática Sérgio Ramos de Faria, de 44 anos, cego desde os dois anos.
Ele mora com a mulher e duas filhas na Zona Norte de São Paulo. É o único em casa com problemas de visão e, com bom humor, diz o quanto sofre com a bagunça delas. “Procurar uma escova de cabelo é missão quase impossível. A disciplina dura dois dias”, conta ele, acostumado à organização.
Atravessando a rua
A primeira gafe cometida pela atual mulher de Faria – eles se conheceram pela internet há cinco anos – foi logo no primeiro encontro, no aeroporto do Recife, onde a moça vive. “Na primeira coluna, ela me largou”, diz, rindo, o consultor, que deu uma trombada com o peito no pilar. Segundo ele, a “chave” da relação entre as pessoas é perguntar.
“Você quer que eu corte (uma carne)? Como quer que eu te ajude? É uma gafe e tanto quando você está parado no sinal e as pessoas já vêm te puxando, te arrastando. Muito inconveniente”, explica Faria. Ele esclarece que a melhor forma de ajudar um deficiente visual a cruzar a rua é deixar que ele pegue no braço ou no ombro da pessoa. “As pessoas sempre pensam que o cego não sabe para onde vai. É um erro”.
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