Pessoas com deficiência decidem seus votos como outras quaisquer do ponto de vista cívico. A aparente diferença – a partir do ponto de vista de quem não vive esta realidade – está estampada na falta de ações de governantes e camufladas nas propostas de candidatos para uma parcela da população que ainda sofre preconceitos, apesar da importância nas urnas. O sonho de entrar no mundo da igualdade esbarra na falta de acessibilidade pelas ruas, escolas, transportes e prédios – privados e públicos.
A inclusão na educação, também dá um nó no assunto. Há o desejo de que ela seja especial em escolas convencionais, assim seriam de fato, incluídas na sociedade.
Em tempos de campanha, Fernando Gabeira (PV) e Eduardo Paes (PMDB) – questionados pelo Jornal do Brasil – prometeram atenção às necessidades dessas pessoas.
Paes considera um absurdo os transtornos enfrentados no dia a dia das pessoas com deficiências. O candidato do PMDB se comprometeu a mudar esta realidade.
– A má conservação de ruas e calçadas é um problema para todos e uma verdadeira tortura para idosos, deficientes visuais e pessoas com dificuldade de locomoção. Na maioria dos bairros do Rio as calçadas não têm rampas. Na minha administração elas serão adaptadas e a conservação vai ser feita de forma permanente. É preciso também fazer cumprir a lei que obriga a adaptação dos ônibus – promete.
O candidato quer ainda criar centros públicos de reabilitação conceder incentivos para que as empresas ampliem o acesso ao mercado de trabalho.
Gabeira também tem planos. Ele diz que seu governo vai atuar de modo que assegure seus direitos.
– A acessibilidade, independência e a autonomia são fundamentais para os cidadãos e a linha de atuação da prefeitura nessa área vai se orientar pelo desenho arquitetônico universal. Meu governo estimulará a adaptação de espaços públicos para facilitar o fluxo de todos. E aqui incluímos os cidadãos que chegam à terceira idade – assegura.
Gabeira destacou ainda que pretende ampliar a oferta de trabalho aos deficientes e será parceiro de setores da sociedade que atuam neste setor. Também disse que vai qualificar o acesso ao ensino especial e aperfeiçoar os professores para que os cerca de 6 mil deficientes que estudam na rede municipal tenham mais oportunidades no futuro.
Preferência por futuro
Para o cientista político da Universidade Cândido Mendes (Ucam), Wanderley Guilherme dos Santos, o critério de escolha dos candidatos por pessoas com deficiência não é diferente daquelas consideradas normais.
– Ambos os eleitores votam pelo futuro que consideram melhor para si próprio. É uma forma minha de avaliar o que faz com que uma pessoa decida por um voto. Mas não é freqüente na análise da ciência política, que considera a família, o status sócio-econômico, ou as preferências que aparecem nos meios de informação, alternativas influentes. Embora também acho que sejam importantes, creio que está faltando esse dado nessas análises como a preferência de futuro que o eleitor tem – ressalta Wanderley Guilherme.
Carregado de críticas, o músico e compositor Marcelo Yuka – que ficou paraplégico depois de levar seis tiros em novembro de 2000 quando tentava impedir um assalto na Tijuca, Zona Norte do Rio – destaca a falta de acessibilidade, que impede o direito de ir-e-vir.
– Até hoje, se tem a idéia de que os deficientes não são consumidores. A acessibilidade é uma coisa necessária tanto para o bebê, quanto para o idoso e o deficiente. Não é porque tenho uma deficiência que o meu problema é maior, faltam rampas nos transportes e na cidade, assim como banheiros adaptados – diz o ex-músico do Rappa.
Segundo Yuka, também falta cobrar de quem constrói.
– Tem que ter pressão em cima dos arquitetos, as pessoas que produzem o benefício da cidade. O Brasil é apontado como o país da arquitetura, mas e a acessibilidade? Somos 25 milhões de deficientes em todo o país. Não tenho partido, tenho fidelidade social, faço projetos sociais – desabafa.
O jornalista Andrei Bastos – que integra uma organização chamada Rede Inclusiva – junto com outras pessoas com deficiência, elaborou um conjunto de propostas de governo que os contemplem, especialmente sobre a acessibilidade nos transportes. Contou que o mesmo foi apresentado a Fernando Gabeira mas frisou que qualquer ocupante da prefeitura pode usá-lo. Para Andrei, a escolha do candidato é feita a partir de análise de propostas.
– Acho até que é um critério de muitas pessoas com deficiência na cidade. Votamos no candidato que oferece garantias de que vai resolver o problema da acessibilidade no transporte público no Rio de Janeiro. Essa questão é a mais importante, que precisa ser resolvida para que todas as outras, de inclusão social, também sejam – afirma.
Contou ainda que, em agosto, foi convidado para uma cerimônia no segundo andar do Palácio Guanabara, onde festejaria um convênio da Faperj com instituições de pessoas com deficiência. A falta de acessibilidade fez o local oferecer seguranças para carregá-lo.