O Projeto Uerê reúne na sala de aula crianças que não conseguem aprender na escola tradicional. Um dos motivos principais da desatenção é a violência, mas algumas dessas crianças chegam com diagnósticos de debilidade mental, dislexia e autismo porque não conseguem ler, escrever ou reter novas informações. “Por causa da violência, muitas crianças não conseguem manter o foco. O olhar se perde. Se não tem foco, não tem concentração e não tem aprendizagem”, conta Yvonne Bezerra de Mello, doutora em filologia e lingüística pela Sorbonne, que nos anos 1980 começou a trabalhar com meninos de rua.
Em 1998, o Projeto Uerê confirmou-se como Organização Não-Governamental, passando a atuar com enfoque na prevenção. O projeto, que reúne 432 crianças na Baixa do Sapateiro, uma das favelas do Complexo da Maré, na zona norte do Rio, utiliza método de ensino criado por Yvonne. Ela ganhou o Prêmio Paz no Mundo e Cidadania, da União Européia em 2007, e apresentou proposta à Organização das Nações Unidas para Ciência, Educação e Cultura (Unesco) para que o Uerê seja adotado como política pública em áreas conflagradas. O método, que está sendo descrito em livro, será testado no Zâmbia por uma ONG sueca.
Um dos casos de diagnóstico de autismo é de um menino que dos 8 aos 13 anos ficou trancado em casa, porque a mãe ouviu que o filho seria incapaz de aprender. Um dia descobriu que o menino escrevia – aprendeu vendo televisão. Há um ano no Uerê, ele se relaciona bem com colegas e está sendo preparado para ingressar na escola em 2009, na 6ª série.
Além dos diagnósticos que não se confirmam, há os casos de bloqueio do aprendizado por violência. Na turma de Yvonne, dos 25 alunos, 19 disseram ter tido parente ou amigo assassinado ou baleado. Esses são os mais difíceis de lidar. As turmas do Uerê são divididas em níveis, em turmas de 25 alunos e dois professores. Todas fazem os mesmos tipos de exercício, mas de acordo com seu grau de compreensão e ritmo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Agencia Estado – AE