31/03/2025
PARAIBA

Especialistas consideram autismo como ‘síndrome comportamental’

Aclassificação internacional das doenças (CID) o caracteriza como transtorno mental. Os indivíduos que o possuem garantem se tratar de um jeito de ser diferente. Independentemente das teorias, o autismo ainda é discriminado pela sociedade. A síndrome comportamental, como é classificada pelos psiquiatras, prejudica a sociabilização e a comunicação. O diagnóstico não envolve exames, mas sim a observação de itens ligados à interação social, comunicação e movimento repetitivo ou interesse em um único foco.

 

O autismo começa a se manifestar na criança a partir dos 3 anos e há variação de grau, do leve ao severo. Ocorre quatro vezes mais em meninos do que em meninas. Trata-se de uma alteração multifatorial que afeta mais de 36 genes, que não são mapeados. Uma pesquisa realizada nos EUA em 2006 indica que dez a cada dez mil nascidos vão apresentar autismo. No Brasil, estima-se que existam mais de dois milhões de autistas.

 

O tratamento, segundo a psiquiatra infantil Márcia Pinho, é feito com a intervenção psicoeducacional e, em último caso, com o uso de medicamentos. “Normalmente o autista tem uma rotina. Quando ele fica exposto a outros ambientes, sente-se incomodado”, explica. A segregação e a discriminação que atingem as pessoas autistas é a principal causa da falta de costume da convivência cotidiana.

 

O aprendizado também influencia muito no desenvolvimento do autista, mas a tarefa não é fácil. A psicopedagoga Sidenise Estrelado conta que existem duas diferenças: o autista que tem estimulação precoce e o que não tem. No primeiro caso, a criança já possui linguagem, não tem tanto estereotipo (movimentos repetitivos) e não enfrentará muitas dificuldades no ambiente escolar. Já no segundo caso, acontece o contrário e os obstáculos serão maiores.

 

O segredo para ensinar ao autista, segundo Sidenise, é descobrir como o aluno especial aprende. “Mas você só vai saber na relação diária com ele. Alguns vão aprender como todos, mas outros terão comportamentos diferentes, como ler de cabeça para baixo”, explica. O trabalho em conjunto com a família também é fundamental para facilitar o aprendizado. “O ideal seria o autista estudar em escola de ensino regular. O problema é a falta de especialistas e de pesquisas na área”, lamenta. Ela ainda enfatiza que a intervenção educacional deve ser na fase infantil.

 

***

 

Falta de ações públicas

 

Ontem, Dia Mundial do Autismo, uma sessão na Câmara de Vereadores de Salvador abordou o assistencialismo municipal e estadual para os autistas. A falta de ações públicas dificulta a reinserção na sociedade de quem tem a síndrome. Se diagnosticado e tratado desde criança, o autista tem grandes chances de ser independente, ou seja, estudar, se formar, trabalhar e casar.

 

A dificuldade em descobrir qual o problema que o filho tinha, na época com 3 anos, porque parou de falar motivou Argemiro Garcia e Mariene Marciel a ingressar na Associação dos Familiares e Amigos da Gente Autista (Afaga). Após levar o garoto em inúmeros médicos, o casal descobriu, por meio de pesquisas, que poderia ser autismo. Apenas aos 8 anos, um neurocirurgião em São Paulo diagnosticou a síndrome.

 

Na Câmara, estiveram presentes representantes dos Amigos do Autista (AMA). A presidente da instituição, Rita Valéria, denunciou a deficiência dos governos em atender as pessoas com autismo. “Na sede da AMA, temos 62 alunos. Mas a espera já contabiliza mais de 300. Então, é preciso exigir ações públicas”, enfatizou. Outra questão é a rede pública de saúde, já que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) não funcionam direito e não há diagnóstico precoce.

 

Um dos principais problemas, na avaliação da Promotora de Justiça da Defesa das Pessoas com Deficiência, Silvana Oliveira Almeida, é o passe livre. “O transporte é fundamental para essas pessoas. Como os pais vão levar as crianças autistas para o tratamento?”, questiona. Segundo ela, a maioria dos deficientes integra famílias de baixo poder aquisitivo. A medida do corte do passe livre infringe, de acordo com Silvana, o direito de ir e vir previsto na Lei Orgânica do município.

Related posts

Lei não é garantia de emprego para deficientes

Eraldobr

ALPB tem 94 leis para deficientes

angeloar

IBGE revela que PB tem 18,5 mil pessoas com Síndrome de Down

Eraldobr

Deixe um comentário

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Assumiremos que você está ok com isso, mas você pode optar por não participar se desejar. Aceitar Leia mais