EMPREGOS

Na própria pele

A convite da Gazeta, um cadeirante, um deficiente físico e um deficiente visual de Ribeirão Preto visitaram alguns prédios públicos que constam da ação do Ministério Público Estadual por não terem acessibilidade – hoje, há cerca de 400 construções irregulares que devem ser indiciadas pela promotoria.

Segundo eles, além dos prédios que não têm opção alguma para os deficientes, há também construções mal-adaptadas e obstáculos nas ruas que dificultam o acesso.

Adepto do atletismo, o cadeirante Lucas da Costa, 25, disse que as dificuldades com rampas muito inclinadas, como a da entrada da Câmara, e a falta de espaço nas calçadas afetam também pessoas idosas.

"A rampa dentro da Câmara é uma das piores. Não dá para subir sozinho, e descer só é fácil para quem tem habilidade", afirmou Costa.

O atleta já teve que ser carregado por um guarda e por duas pessoas que passavam na rua para poder entrar na Prefeitura. Ele diz que não aceita mais esse tipo de tratamento. "Estive em um banco e não pude entrar por causa de um degrau. A atendente queria chamar alguém para me ajudar, mas eu chamei o gerente e disse que ele tinha um mês para corrigir, senão entraria com uma ação, voltei e tinha, porque é lei", disse Costa.

O urbanista da Secretaria de Planejamento e Gestão Ambiental José Antonio Lanchoti disse que vários prédios já passaram por vistoria e que alguns, como o Palácio do Rio Branco, estão com projetos de adaptação prontos há alguns anos.

"O Otoniel Mota é estadual, mas, assim como a Prefeitura, já deveria ter feito os acessos, embora tenha problemas por ser patrimônio tombado", disse Lanchoti.

O urbanista também citou o Mercadão (que possui apenas um acesso adaptado e balcões altos demais para cadeirantes) e a biblioteca Padre Euclides (cujo acesso é por escadas).

"As empresas procuram por rampas achando que estão criando acessibilidade, mas isso não é suficiente. A rampa tem que ter a inclinação certa, e tem que ter outros itens, como corrimão e banheiro adaptado", diz Lanchoti.

O presidente da Associação de Amigos dos Deficientes Físicos, Wellington Henrique Barbara, que também tem dificuldade para caminhar, disse que é comum empresários "maquiarem" a adaptação para burlar a lei.

"Se não tiver o acesso, a planta não é aprovada, mas depois eles fazem de qualquer jeito, muito inclinado, com corrimão baixo. Não chamam o deficiente para avaliar", afirmou Barbara. Cego desde os 21 anos, o universitário Alexandre Santos, 29, disse que as escadas da Prefeitura são ideais para ele – nem muito altas, nem muito largas -, mas que é uma vergonha não haver acesso para os cadeirantes.

Para ele, adaptações simples, com custo baixo, com funcionários orientados para anunciar senhas de fila e linhas de ônibus, são as mais efetivas para os deficientes visuais.(DANIELLE CASTRO)

Estado limita adequação

A Secretaria de Estado da Educação informou por meio de assessoria que não há plano de reforma para adaptação previsto para a Escola Estadual Otoniel Mota porque não há demanda de estudantes portadores de deficiência no local.

Segundo a secretaria, o plano de acessibilidade só é feito em uma escola por bairro.

Quanto ao caso da Prefeitura, o diretor de Obras Públicas, Clodoaldo Almeida afirmou que o projeto de adequação deve ser finalizado nos próximos 30 dias, junto com o plano de restauro.

"Assim que recebermos o projeto vamos fazer o orçamento e ver se há dotação para as obras. Se não houver para tudo, faremos ao menos o elevador.”

A reportagem não conseguiu falar com os responsáveis pelo projeto de adequação da Câmara para saber se há previsão de correção das rampas de acesso. (Gazeta de Ribeirão)

Related posts

Prefeitura disponibiliza cartão que autoriza estacionamento para idosos e deficientes

Eraldo

64% das empresas de Osasco cumprem a Lei de Cotas para deficientes físicos

Eraldo

O Acesso das Pessoas com Deficiência aos Bancos

Eraldobr

Leave a Comment