Independentemente de sua classificação domingo na Corrida de São Silvestre, o atleta e técnico de Enfermagem Antônio Rodrigues Maciel, 42 anos, já pode ser considerado um vencedor. Ele faz parte do seleto grupo de portadores de deficiência física e visual que participam da competição. Este ano, dos 34 atletas ‘especiais’ inscritos — entre cadeirantes, cegos e muletantes —, Antônio é o único carioca. “Biamputados como eu existem muitos no Rio. O que não existe é incentivo para a prática de esportes. Cada prótese não sai por menos que R$ 30 mil.
Ela é cara porque o equipamento é importado. As próteses são feitas de fibra de carbono, que é um material ao mesmo tempo leve e resistente. Depois do acidente que sofri, me tornei um homem caro. Sem patrocínio, não saio nem da cama”, brinca ele. Antônio sofreu o acidente que mudou a sua vida em 20 de fevereiro de 2000, quando se dirigia para a casa de amigos em Japeri.
No desastre, perdeu os dois pés. Depois de passar por algumas tentativas malsucedidas de reimplante, optou pelas próteses. Mas o início do processo de reabilitação não foi dos mais animadores. “Por causa do peso do corpo, era difícil ficar sobre duas próteses de uma só vez. Não conseguia permanecer de pé nem por cinco minutos. Além disso, prótese que machuca não serve para nada.
Você corre o risco de tomar raiva dela e nunca mais querer usar”, afirma. O esporte foi decisivo no processo de reabilitação de Antônio. O curioso é que, antes do acidente, ele nunca foi o que se pode chamar de ‘esportista nato’. Pelo contrário. “Trabalhava em três lugares para sustentar a família. Nunca sobrou tempo para cuidar da saúde. O esporte, porém, me fez ressurgir para a vida”, garante.
Vice-campeão nos EUA entre os amputadosÀs vésperas de uma grande prova, como a Corrida de São Silvestre, Antônio chega a correr 10 km por dia, além de fazer natação, ciclismo e musculação três vezes por semana. Desde que se tornou atleta, em 2002, já competiu em diversas provas, como a Maratona de Nova Iorque, na qual chegou em 2º lugar na categoria amputados.
Em sua primeira competição — uma prova de revezamento —, chegou em último. Quando faltava pouco mais de 1 km para cumprir o percurso, ele teve a companhia solidária dos outros atletas. Domingo, Antônio compete na São Silvestre pela terceira vez. Em 2004, chegou em 4º lugar e, no ano seguinte, melhorou duas posições. “É claro que a minha vida mudou depois do acidente.
Mas posso garantir que mudou para melhor. A reabilitação é lenta, mas progressiva. Com isso, me sinto melhor a cada dia. Quero que as pessoas saibam que os amputados conseguem viver bem dentro dos seus limites. Os limites estão dentro da cabeça de cada um”, ensina.
fonte: O DIA OLINE