Pedras, buracos, meio-fio alto, rampas de acesso quebradas ou inexistentes. Na Grande Tijuca, são grandes as dificuldades partilhadas por deficientes físicos, mães com carrinhos de bebê e idosos. O GLOBO-Tijuca levou a gerontóloga Maria Angélica Sanchez às ruas da região e constatou que, mais que o número de irregularidades nas ruas, é o descaso que transforma num inferno a vida de quem luta além de suas limitações para ter acesso a um espaço seguro em uma calçada.
Presidente do Departamento de Gerontologia da seção fluminense da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Maria Angélica aponta a falta de rampas de acesso às calçadas como o principal problema da região. Em mais de dez ruas no entorno da estação de metrô São Francisco Xavier, as poucas encontradas estavam em estado crítico e mal posicionadas.
– Em poucas ruas notamos rampas de acesso com alguma qualidade. Mas, no entorno da estação São Francisco Xavier, vimos apenas duas rampas de acesso, uma bem longe da outra – constata.
Na falta de acesso, as pessoas com deficiência acabam, muitas vezes, usando as rampas de garagem.
– O pior é que, se acontecer algum acidente, a pessoa pode ser punida porque estava andando em área irregular. Essa rampa é para carro e não para pessoas – afirma Maria Angélica.
A gerontóloga afirma ainda que não é só na rua que os pedestres e cadeirantes estão correndo riscos. Nas calçadas, mesmo nas que estão em boas condições, uma grande quantidade de obstáculos também atrapalha.
– Os blocos de cimento, as bancas de jornal, o chaveiro… Tudo isso consome um espaço fundamental para a circulação segura das pessoas – enumera.
Pentacampeão carioca de boxe, Will Ribeiro perdeu os movimentos do lado esquerdo do corpo depois de um acidente de moto, e passou a usar uma cadeira de rodas para se locomover. Ele conta que os buracos na calçada já o derrubaram várias vezes do equipamento.
– É realmente difícil andar por aqui. Outro dia, seguindo por uma calçada cheia de buracos, uma das rodas ficou presa e eu caí – reclama.
Ribeiro não se queixa só das péssimas condições das calçadas. Ele diz que a falta de educação de motoristas, que costumam estacionar sobre o passeio ou em frente às rampas de acesso, também dificulta a locomoção.
Em uma das rampas da Rua Mariz e Barros, na esquina com a Rua São Francisco Xavier, O GLOBO-Tijuca flagrou dois exemplos claros do que diz o ex-pugilista e outros moradores da região. Um táxi estacionado em frente a uma rampa de acesso, que estava destruída. Neste momento, uma mãe empurrando seu filho em uma cadeira de rodas teve que se esforçar para conseguir subir na calçada.
– Tenho dificuldade de empurrar a cadeira de rodas em função do estado precário das ruas e da falta de rampas de acesso – desabafa a dona de casa Roberta Madeira.
As obras também são vilãs. Segundo a gerontóloga, elas não só prejudicam a conservação das calçadas, como acabam criando mais obstáculos.
– Reformas e construções geram entulho, que é colocado dentro de caçambas. E elas acabam no meio das calçadas. É mais um obstáculo. O ideal é que o entulho seja armazenado no espaço onde a obra está sendo realizada – explica.
A aposentada Sílvia Cardoso perdeu uma das pernas e só anda com o auxílio de duas muletas. E reclama que o pouco espaço nas calçadas é mais um fator que agrava o problema da falta de rampas de acesso.
– Já tenho que fazer muita força para subir nas calçadas, uma vez que não há rampas. E o lixo e o entulho abandonados na rua dificultam não só o meu acesso, mas também a caminhada na calçada. Como se não bastasse ter que lutar para me equilibrar, tenho que desviar desses obstáculos a toda hora – lamenta.
O militar aposentado Geraldo Pereira é outro tijucano insatisfeito:
– Falta tudo para quem é deficiente. Existem lugares na Tijuca em que você simplesmente não pode andar. É um absurdo.