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Geoffrey Enthoven conta como retratou os personagens com deficiência física de ‘Hasta la vista’

"Hasta la vista", de Geoffrey EnthovenUm grupo de amigos chega a certa idade e resolve ir a um bordel, em busca da tão esperada perda da virgindade. Uns condenam, outros respeitam, mas ninguém pode impedi-los. O filme belga “Hasta la vista”, de Geoffrey Enthoven, em cartaz no Rio desde sexta-feira, é sobre esse assunto. Mas com um detalhe: os protagonistas da história são dEFICIENTEs físicos. (no fim da material tem um video do filme).

“Hasta la vista” é o quinto filme de Enthoven e, de longe, o mais bem-sucedido. Venceu a Espiga de Ouro no Festival de Valladolid, na Espanha, concorrendo com “Neves de Kilimanjaro”, “O garoto da bicicleta” e “Monsieur Lazhar”, este último indicado ao Oscar de filme estrangeiro pelo Canadá. E saiu do Festival de Montreal com o Grande Prêmio das Américas.

Americano inspirou história
Todo esse reconhecimento veio pela trama em que os jovens Jozef (Tom Audenaert), Philip (Robrecht Vanden Thoren) e Lars (Gilles De Schrijver) armam um plano para viajar sem os pais até a Espanha, onde, ouviram dizer, existiria uma espécie de bordel inclusivo. Jozef é cego; Philip, tetraplégico; e Lars se locomove numa cadeira de rodas em decorrência de um câncer. Todos são virgens.

Fora a ideia bastante criativa, o que há de especial em “Hasta la vista” é o modo como o diretor trabalhou seu argumento. O filme não é comédia, embora tenha um ou outro diálogo mais engraçado. Não é drama, apesar de a situação dos protagonistas naturalmente não ser das mais confortáveis. Nem é um road movie. O que pesa mais em “Hasta la vista” é a relação de preconceito proposta entre personagens e espectadores. E, sobretudo, como essa relação vai se quebrando. Os próprios protagonistas expressam seu preconceito contra a enfermeira obesa que contratam para os acompanhar na viagem.

– Acho o preconceito uma característica bastante humana. Todos temos experiências com o assunto. O importante é entender que aqueles com deficiência são iguais a qualquer outra pessoa e também têm seus próprios preconceitos. Nós não os retratamos como anjos – afirma Enthoven.

A inspiração veio do americano Asta Philpot, 29 anos, dEFICIENTE físico desde que nasceu. Philpot foi o protagonista do documentário “For one night only“, produzido pela rede inglesa BBC em 2007, em que defendeu sua principal bandeira: o direito de pessoas com deficiência terem vida sexual ativa, mesmo que precisem pagar. Sim, na Espanha há um bordel inclusivo. E Philpot perdeu a virgindade lá.

– Na pesquisa, descobri que a maioria das pessoas com deficiência sonha sobre como seria sem as limitações físicas – conta Enthoven.
É justamente esse o objetivo de “Hasta la vista”: posicionar-se entre sonho e realidade. E, assim, enfrentar o preconceito.
Para quem não conhece os atores, “Hasta la vista” levanta certa dúvida se eles seriam realmente dEFICIENTEs. Não são. O resultado visto na tela é mesmo fruto de muito ensaio.
Reportagem publicada no vespertino O GLOBO

“Hasta la vista”, de Geoffrey Enthoven

 

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