A falta de infra-estrutura é um problema que os alunos da rede municipal de ensino de Vitória têm que conviver diariamente. Isso associado ao descaso com a alimentação, com as adaptações para atender o estudante com limitações, a sujeira e mais uma série de fatores registrados pela reportagem de ES Hoje. As condições precárias das escolas municipais são fatores que provocam danos à saúde e ao aprendizado dos alunos.
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Álvaro de Castro Mattos (EMEF – ACM), do bairro de Jardim da Penha, tem aulas ministradas num porão. Ali não há ventilação, mas sobra mofo e mau cheiro. Tudo o que não poderia existir num ambiente de ensino. E que sobra, comprometendo a qualidade dos trabalhos realizados pelos professores. Para a professora da EMEF – ACM, Mônica Rocha, a situação acarreta em dificuldades para administrar a aula. “Aqui no porão o ar não circula, o que prejudica o aprendizado do aluno e a nós professores a darmos aula. É extremamente quente e os ventiladores que funcionam de forma regular, não comportam a necessidade básica de condições propicias a uma sala de aula”. relatou.
Apesar da localização das salas de aula no subsolo, a Secretaria Municipal de Educação nega saber da situação e informa que está sendo feita uma avaliação para possíveis obras de reforma e ampliação da unidade.
Na EMEF Francisco Lacerda de Aguiar a problemática do calor excessivo já foi relatada para a Prefeitura. O professor do laboratório de informática, Ricardo Dantas, conta que já pediu providências à Seme, mas “há outras prioridades”. “Venho reivindicando há bastante tempo na Prefeitura, mas eles informam que tem outras coisas prioritárias. Os alunos ficam agitados com o calor excessivo que no verão é insuportável. Atrapalha o rendimento dos alunos e de nós professores. A estrutura do prédio da escola é antiga e foi construída para conservar o calor”.
Em períodos de chuva a situação piora. As janelas do porão são niveladas com o piso térreo da escola, o que ocasiona alagamento. Apesar da condição insalubre apresentada nessas épocas, os alunos do ensino fundamental assistem às aulas normalmente. “Quando chove, o porão fica alagado, o que é preocupante. Os alunos correm riscos de serem contaminados por várias bactérias. Os toldos que consegui providenciar com o diretor da escola para a parte externa das salas do edifício central não evitam o alagamento”, comentou a professora da 1ª série, Elana Tristão.
Desde a época da construção da EMEF de Jardim da Penha, há mais de três décadas, houve apenas uma reparação efetivada, há cerca de dez anos. De acordo com a coordenadora da escola, Maria Ribeiro, há uma verba destinada à escola de R$15 mil para a concretização da reforma. “A Prefeitura Municipal de Vitória destinou a verba de R$15 mil para a manutenção da escola e para os reparos necessários. Porém até o momento nada foi concluída”, destacou.
Crianças especiais, sem o devido cuidado especial
Educar é buscar atingir um alto grau de desenvolvimento. Mas para as crianças especiais, com algum tipo de limitação, isso fica cada vez mais complicado nas escolas da rede pública de Vitória. Isso porque as adaptações para crianças de seis anos de idade não foram realizadas pela Prefeitura. Mesmo tendo um projeto aprovado desde 2005, com prazo final para dezembro deste ano, as obras não foram realizadas. Enquanto isso, os banheiros compartilhados por alunos da primeira série e das turmas mais avançadas representam um agravo preocupante a saúde dos menores.
A professora e mãe de uma aluna da escola da primeira série, Mari Rodrigues, conta que foi lamentável o prognóstico que escutou da médica após saber que sua filha foi vítima de uma infecção vaginal por contato com o vaso sanitário da escola. Os assentos não têm altura adequada para essas crianças. “Levei minha filha para se consultar com a ginecologista porque ela apresentava coceiras na região vaginal. A médica explicou que a infecção se deu pelo contato direto com o vaso sanitário sujo, onde há um acúmulo de bactérias. É deplorável que minha filha e outras crianças da idade dela fiquem expostas às condições precárias de higiene porque não há adaptação”.
O espaço destinado aos alunos com deficiência física é restrito devido à acessibilidade escassa. A rampa instalada para os cadeirantes está localizada apenas no primeiro pavimento da escola o que dificulta o acesso desses deficientes nas demais mediações. E, de acordo com a coordenadora do EMEF Álvaro de Castro Mattos, Maria Ribeiro, a aluna da quarta série terá dificuldade para ingressar na sala de aula no próximo ano letivo. A unidade está localizada em Jardim da Penha. “Há um caso da menina da quarta série que ano que vem não sabemos qual será o posicionamento do pai da criança, pois ela está impossibilitada para conseguir estudar aqui no próximo ano, já que as salas de 5ª a 8ª séries se encontram no andar de cima”.
“Minha filha irá estudar na quinta-série o ano que vem. Já conversei com o diretor da escola em relação à reforma para maior acessibilidade dos deficientes, mas o projeto aprovado pela PMV há dois anos até hoje não foi concretizado”, lamentou o pai da aluna deficiente, Álvaro Antônio Perini.
O caso não é diferente com o aluno Wanderson do EMEF Francisco Lacerda de Aguiar, no bairro São Pedro. A dificuldade diária para conseguir chegar à sala de aula remete a uma comoção geral, principalmente, por parte do porteiro que carrega o menino no colo para subir as escadas. “Todos os dias recebo ajuda do porteiro para levar meu filho à sala de aula”, relata Elaine dos Santos Vieira, mãe de Wanderson.
A Seme, por meio de nota, garante que as adaptações já vêm sendo realizadas em algumas escolas municipais de ensino fundamental, que atendem crianças de nove anos. Diz ainda que o projeto de adaptação do espaço físico para atendimento as criança com idades inferiores acontecem a partir da solicitação de cada escola.
A Secretaria informa também que as duas escolas são contempladas com recursos do governo federal do “Programa Escola Acessível” para realizar as adaptações necessárias para o atendimento de pessoas com deficiência.