O atendimento ambulatorial de 60 crianças autistas de 2 a 12 anos será iniciado hoje com abertura oficial marcada para às 9h30. O projeto, chamado de Criando Asas, descobrindo o autismo, é totalmente gratuito e faz parte das atividades da Associação Amigos dos Autistas de Sorocaba (Amas) que existe há 15 anos e, atualmente, atende 43 pessoas com autismo. A diretora da entidade, Jeane Pereira de Lima Collaço, explica que o atendimento ambulatorial é um serviço novo oferecido pela entidade e tem na orientação aos pais seu principal objetivo.
Segundo ela, os pacientes foram chamados da lista de espera que conta com mais de 80 nomes da região de Sorocaba. Estamos construindo uma nova sede no Wanel Ville há dois anos. Dependemos de recursos doados e não podemos esperar mais tempo pois quanto antes fizermos as intervenções, melhores são os resultados, argumentou ela.
O ambulatório funcionará de segunda a sexta-feira das 8h às 12h e contará com terapia ocupacional, atendimento psicológico, psicopedagogo e assistência social. A capacidade inicial, afirma a diretora da entidade, é para 45 atendimentos semanais. Vamos realizar, no mínimo, 60 consultas por mês e se conseguirmos mais parceiros pretendemos ampliar esses números, diz ela. Jeane comenta que o espaço físico para os atendimentos está sendo gentilmente cedido pela Casa do Cirineu, outra entidade social que trabalha com crianças em situação de risco social. Não podíamos esperar mais tempo. De repente, tivemos uma luz divina e fomos bater na porta deles, lembra ela. O resultado foi quase imediato, afirma Jeane, e não demorou mais de três meses entre o contato inicial e a inauguração oficial deste novo projeto da Amas. Estamos realizando um projeto graças a ajuda de todos pois a Amas também teve que liberar profissionais para fazer os atendimentos, diz ela.
Na sede do Amas, que fica no bairro Jardim Vera Cruz, os 43 atendidos recebem atenção em período integral. O papel da entidade é procurar fazer a inserção do autista na entidade por meio do ensino das noções básicas da vida prática e diária. Para os que apresentam menor comprometimento por conta do autismo, também é feita a alfabetização básica. Os alunos ainda participam de oficinas em que desenvolvem trabalhos manuais e algumas atividades físicas. O projeto apresenta resultados positivos e, em grupos pequenos, os atendidos já são levados a passeios externos com os monitores.
A parceria com outra entidade, agiliza a ampliação dos atendimentos pois, como destaca Jeane, quanto antes as intervenções forem feitas, melhor é para a criança autista. Com dois anos, o cérebro ainda está em formação e fica mais fácil trabalhar e melhorar a qualidade de vida dessas crianças e da família também. Se for iniciado mais tarde também funciona, mas demora mais, explica. As famílias interessadas em passar pelo atendimento ambulatorial devem ligar para a entidade e agendar um diagnóstico. Os contatos podem ser feito por meio do telefone 3222-4646 ou pelo e-mail amassorocaba@uol.com.br. Mais informações no site www.amas.com.br.
Entrar no mundo deles
No autismo, explica Jeane, a interatividade com o mundo e o desenvolvimento social são afetados. Somos nós que temos que entrar no mundo deles e não o contrário, afirma a diretora da entidade. Sendo assim, o atendimento psicológico para pais de filhos com esta deficiência é essencial. A assistente social da entidade, Cláudia Corrêa Consani, afirma que em um primeiro momento as famílias tendem a ter uma certa resistência à notícia do autismo no filho. Elas entram em um período de luto que varia em cada caso mas pode levar até anos, diz a assistente. Segundo ela, as famílias, quando não recebem a orientação correta e o suporte necessário, acabam por adoecer junto com o autista. Tudo tem que ser exatamente como ele (o autista) se acostuma. Sabemos de casos em que o televisor tem que ficar ligado em um canal apenas pois, se não tiver, o autista pode entrar em crise, exemplifica ela.
Para os pais, os atendimentos serão em grupo e, assim como para os autistas, durarão cerca de 40 minutos. A principal dificuldade neste quesito, para a assistente social, é o lidar com a decepção e desenvolver nos pais a aceitação de ter um filho autista. Sabemos que todos os pais idealizam seus filhos e sonham com a faculdade e com um adulto ideal, afirma ela. É exatamente a idealização, afirma a assistente, que causa a frustração. Eles demoram um pouco para aceitar que nós até vamos conseguir dar uma melhor qualidade de vida, mas o filho não vai para a escola, não vai se formar na faculdade e vai apresentar uma série de limitações durante a vida, avalia ela. A formação do clube da mãe, é uma forma de minimizar o impacto entre as mães e é também uma ferramenta de integração familiar que funciona por meio de atividades artesanais como pintura e culinária.