Algumas falhas no serviço de embarque e desembarque nos ônibus do transporte coletivo que contam com elevadores adaptados aos passageiros de cadeiras de rodas têm conturbado a viagem dos deficientes físicos. Os cadeirantes reclamam que muitos motoristas não estão permitindo o embarque devido à necessidade de ter que descer do veículo para acionar o dispositivo eletrônico para não atrasar a viagem. O tempo de embarque e desembarque dos deficientes varia entre 10 e 20 minutos, segundo a Associação dos Deficientes Físicos do Estado de Goiás (Adfego). Para cumprir o tempo estipulado das viagens e não sofrer punição, vários condutores alegam aos deficientes que o equipamento está estragado ou que não sabem operá-lo adequadamente. O receio dos deficientes é que com a chegada do período chuvoso, mais pessoas com mobilidade reduzida tenham ainda mais transtornos no acesso ao transporte coletivo em Goiânia.
Somente entre os meses de junho e agosto foram 750 veículos adaptados ao transporte de pessoas com mobilidade reduzida incorporados de Goiânia, que conta hoje com cerca de 1.500 ônibus em circulação. O vice-presidente da Adfego, Lindomar Alves dos Santos, avalia que a adaptação dos novos ônibus melhorou a acessibilidade para as pessoas que dependem do transporte coletivo para se locomover, mas alguns problemas ainda não foram solucionados. “Nós estamos tendo muitas dificuldades com os motoristas, pois muitos deles não auxiliam os cadeirantes da forma correta”, diz. Para o vice-presidente, o fato de os motoristas terem que cumprir à risca o horário de chegada aos terminais e pontos finais faz com que o acompanhamento no embarque e desembarque dos cadeirantes seja comprometido. Ele defende que os motoristas sejam mais bem capacitados para lidar com os deficientes que dependem do ônibus.
O representante da Adfego afirma que a associação tem recebido reclamações dos deficientes em relação à dificuldade de embarcar. Segundo ele, muitos motoristas, para não atrasar, falam para os cadeirantes que não têm condições de embarcá-los por que o equipamento está com defeito e, em alguns casos, dizem que não sabem como operá-lo. Lindomar teme que com a chegada das chuvas o acesso aos ônibus se torne ainda mais difícil, por que os motoristas podem não querer descer do coletivo por causa da chuva. “Nós entendemos o lado dos motoristas e também nos sentimos constrangidos de atrasar a viagem dos outros passageiros, mas temos que ter o nosso direito de ir e vir resguardado”, acrescenta.
Outro problema citado pelo vice-presidente da Adfego é quanto ao número reduzido de pessoas em cadeiras de rodas que podem ser transportadas nos veículos do transporte coletivo. Lindomar esclarece que a norma 14.022 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define os padrões para o transporte de pessoas com mobilidade reduzida. Nela está definido que no ônibus deve haver espaço para duas cadeiras de rodas, com área mínima reservada para cada cadeira de rodas de 1,20 metros de comprimento por 0,86 metros de largura. O espaço reservado ao cadeirante só comporta um por viagem e se outro deficiente tiver aguardando há vários minutos no ponto de ônibus, o motorista não permite o embarque. “O fato de só ser possível transportar um cadeirante por vez prejudica muitos deficientes, que muitas vezes chegam atrasados em seus compromissos”, explica.
DEFICIENTES COBRAM HUMANIZAÇÃO
“Eu penso que há muita má vontade de alguns motoristas em ajudar o deficiente”. A reclamação é da atendente Jéssica da Silva, 28. Ela conta que a primeira vez que precisou usar a escada adaptada para embarcar no ônibus, há cerca de três meses, o motorista não desceu do veículo para ligar o dispositivo. Como estava acompanhada de dois amigos e ainda não sabia que o novo dispositivo já poderia ser utilizado, ela pediu a eles que a carregassem ao interior do ônibus. Durante a viagem ela foi informada por passageiros que o elevador já funcionava e na hora de descer, Jéssica pediu ao motorista que acionasse o serviço. Somente após o pedido é que o condutor do coletivo resolveu operar a escada adaptada, pontua.
Jéssica fala de outro problema que os cadeirantes ainda enfrentam ao embarcar nos ônibus adaptados com a escada de acesso. Ela revela que para ter acesso ao local destinado aos deficientes em cadeiras de rodas, já no interior do veículo, os motoristas quase nunca sobem junto para ajudar a fixar a cadeira e também se negam a colocar o cinto de segurança para prender a cadeira. “A acessibilidade mudou, mas falta preparo por parte dos motoristas de ônibus”, avalia. Mesmo com as dificuldades relatadas, a atendente acredita que a chegada dos ônibus com a adaptação melhorou muito a vida dos portadores de deficiência que transitam pela cidade em cadeiras de rodas. “O deficiente antes evitava sair de casa, agora pode contar com o ônibus adaptado”, diz.
A reportagem do HOJE acompanhou na manhã de ontem a viagem de Jéssica entre sua residência, no Setor Central, até o Terminal Rodoviário de Goiânia. Assim que o ônibus parou, o motorista já desceu para acionar a escada adaptada e o embarque não demorou muito. Passados alguns minutos até conseguir entrar no ônibus e ocupar a área reservada para os cadeirantes, Jéssica teve a ajuda de passageiros para fixar a cadeira e colocar o cinto de segurança. Ao chegar ao local de destino, novamente o motorista operou o equipamento para acionar a escada adaptada, mas não subiu até o local onde a cadeira de rodas estava presa para ajudá-la a ter acesso à escada e nem para retirar o cinto de segurança.