O Dia Nacional de Luta da Pessoa Portadora de Deficiência, instituído oficialmente em 2005, é dedicado à discussão sobre a cidadania da pessoa com deficiência. No Brasil, existem atualmente cerca de 25 milhões de pessoas com deficiência. O IBGE, em 2000 incluiu, pela primeira vez, no Censo a população brasileira que tinha alguma deficiência. Um dos objetivos desta data é incentivar a reestruturação das cidades brasileiras, buscando a construção de espaços acessíveis às pessoas com deficiência e adaptando os já existentes, de modo a atender as necessidades das pessoas com deficiência.Os grandes problemas hoje, sem dúvida, são os prédios de uso público. Agências bancárias, lotéricas, hospitais, lojas, restaurantes, todos esses precisam se adaptar. Não basta ter lei, ela tem que ser cumprida, e só será cumprida na medida em que houver cobrança.No Brasil, 22% dos deficientes são analfabetos e a repetência entre crianças e jovens com deficiência é quatro vezes maior.As pessoas com deficiência não reivindicam benefícios que tenham características de dádivas, privilégios ou concessões, mas reivindicam o que é de pleno direito delas como cidadãos de um país e seres humanos integrais.Segundo a ONU, mais de 650 milhões de pessoas no mundo, o que representa 10% da população mundial, sofre de algum tipo de deficiência, visível ou não visível, e cerca de 80 por cento delas vivem nos países em desenvolvimento.Uma pequena sereia – Ver o filho doente causa agonia a qualquer um. Mas notar que há algo errado com a criança é desesperador. A angústia de não encontrar respostas é fato comum na vida de famílias com parentes portadores de necessidades especiais sejam elas congênitas ou adquiridas. E foi o que aconteceu com Sandra e Reinaldo Massarelli, há 20 anos. Mãe de primeira viagem, Sandra deu à luz a gêmeos: Arthur e Aline, ela com Síndrome de Down.Passado o choque inicial, os pais partiram para a luta em busca de recursos que proporcionassem à filha melhor qualidade de vida. Ao contrário de muitas famílias que escondiam os filhos especiais talvez por vergonha, talvez por receio da discriminação; o casal assumiu Aline plenamente, nunca a excluindo de qualquer atividade deles. E com o apoio de familiares e amigos passou a estudar o assunto e buscar conteúdos que ajudassem no desenvolvimento da pequenina.Morando em São Caetano do Sul, onde nasceu, Aline freqüentou a Apae durante dois anos, duas vezes por semana. Paralelamente ela freqüentava uma fonoaudióloga que trabalhava com o método de Reorganização Neurológica, que foi fundamental para o desenvolvimento da menina. No resto da semana a estimulação era feita pela mãe e pelo irmão, que também exigia atenção. “O Arthur foi fundamental para o desenvolvimento da Aline, uma vez que ele também estava descobrindo o seu mundinho”, revelou Sandra.Quando as crianças estavam com sete anos o casal mudou-se para Brusque. O pai veio para assumir a representação de uma empresa de São Paulo em Santa Catarina. Aqui ela foi matriculada no Jardim de Infância Divina Providência e posteriormente no Colégio São Luiz, onde há dois anos, foi a primeira portadora de Síndrome de Down a concluir a 8ª série. “Também a colocamos numa escola de natação, para que ela tivesse alguma atividade física”, diz a mãe. E a partir daí a menina mostrou que dentro de uma piscina ninguém a segurava. As limitações impostas pela Síndrome de Down deixavam de existir quando ela caía na água. Hoje, com 20 anos, é campeã estadual absoluta de natação DM. Tetra-campeã dos Parajasc. Quem assiste uma prova de natação dela, jura que vê uma pequena sereia dentro da água; com movimentos perfeitos, a graça e a delicadeza de um peixinho.Ao completar 18 anos ela cobrou dos pais tudo o que o irmão gêmeo teve: exigiu tirar seu título de eleitora e votou pela primeira vez em 2006. “Ela escolheu seus candidatos pela televisão, pois não perdia o horário eleitoral. Nós apenas conversamos com ela para esclarecer algumas dificuldades”, esclareceu a orgulhosa mãe acrescentando “ela se sentiu muito importante. No primeiro turno a acompanhei até a urna, com receio que ela pudesse se confundir, mas que nada; não precisou de ajuda alguma. No segundo turno fez questão de entrar sozinha no local de votação”.Outra cobrança de Aline para os pais foi a carteira de habilitação. Ela só sossegou quando foi convencida de que é muito mais legal e mais ‘chique’ ter um motorista particular. E como a mãe foi ‘eleita’ a motorista particular, Aline agora cobra do pai um carro, já que ele deu um para o irmão. O carro vai ser dela, mas dirigido por sua motorista particular.Como atleta, Aline é extremamente dedicada, disciplinada e responsável nos horários. Ela costuma arrumar suas coisas um dia antes dos treinos para não esquecer nada. “Como campeã, ela se acha uma celebridade. Temos que trabalhar melhor esse ponto com ela para evitar que, se um dia ela não ganhar uma medalha, não se decepcionar, pois ela vai ser sempre uma vencedora”, revelou a mãe.A adolescente Aline é como tantas outras da mesma idade. Adora música, cinema, viagens, praia, passeios com as amigas. Tem até um namoradinho: Rafael, atleta da equipe de basquete DM do Projeto Transcender. Ela é a fã número um do grupo Roupa Nova; tem até uma foto no site do fã clube. Gosta tanto de música que já fez aulas de violão e agora vai estudar teclado para acompanhar as músicas dos seus ídolos.Atualmente ela treina natação três vezes por semana e duas vezes por semana participa de um projeto do Sesi de inclusão ao trabalho.Enxergando com a alma – “João sai de casa, pega o ônibus, ou melhor, tenta porque, com cadeira de rodas, não consegue, a menos que o ônibus seja adaptado para cadeirantes. Espera outro, este sim, adaptado, o levará ao seu destino. Chega na empresa e, ao invés da escada, sobe a rampa e pega o elevador. Junto com ele, chega Maria, deficiente visual que, com auxílio de sua bengala, vem caminhando desde sua casa, por calçadas sem obstáculos. Ela acerta o passo e aciona o botão (em braile) correspondente ao seu andar. Utopia ou realidade?”.A historinha acima lembra que, quando se fala em inclusão de pessoas com deficiência, certamente, entre o primeiro conjunto de imagens que vêm a sua cabeça estão as dificuldades enfrentadas em relação à acessibilidade, não é mesmo? Afinal, no Brasil, ainda é preciso evoluir muito neste quesito, seja no setor público ou privado, a fim de garantir independência para que estas pessoas consigam sobreviver com boa auto-estima e dignidade. Raras são as cidades brasileiras que possuem ônibus com plataformas de acesso para cadeirantes; raras são as cidades que não possuem nenhum tipo de obstáculo (árvores, orelhões, buracos) no meio das calçadas que atrapalham a locomoção do cadeirante, da pessoa com muletas ou do deficiente visual.Sidnei Pavesi, 30, fisioterapeuta e atleta do futebol de salão, é um exemplo de luta e superação. Aliás, superação é a principal palavra que rege a vida de quem possui alguma deficiência. Sidnei nasceu com glaucoma congênito, com apenas 10% de visão. Entre os 14 e os 15 anos ele perdeu totalmente a visão. Ele conta que sua adaptação não foi nada fácil, porque embora enxergando muito pouco e com limitações, passar para a escuridão total foi difícil, mas ainda assim, buscou evoluir, estudar, praticar esportes, se formar. É um dos grandes batalhadores pela inclusão do deficiente visual seja no mercado de trabalho, na escola ou na sociedade em Brusque. “Acredito que as dificuldades encontradas variam de pessoa para pessoa. Hoje não sinto tanta discriminação; sou considerado quase normal, pelo fato de estar trabalhando há tanto tempo”, revela.Para ele, o preconceito começa na cabeça do deficiente. Ele se fecha, se tranca em seu mundinho. A família discrimina muito também, é mais fácil deixar o deficiente dentro de casa do que estar buscando alternativas para melhorar a qualidade de vida dele.”Um dos maiores problemas enfrentados pelos deficientes visuais é a super proteção por parte da família. Protegem, mas sempre com o medo de mostrar o deficiente à sociedade”, desabafa.Presidente licenciado da Associação dos Deficientes Visuais de Brusque, ele revela que “quando um deficiente fala comigo, geralmente diz que quer progredir, sair de casa; que quer fazer alguma coisa, ser útil”.No campo esportivo, o deficiente visual não tem limitações desde que se leve em conta alguns detalhes. O futebol, por exemplo, é jogado com uma bola especial, que faz barulho. E a prova disso são as Paraolimpíadas, que terminaram recentemente, onde o Brasil fez a sua melhor campanha, terminando em nono lugar.Mas não precisamos ir tão longe. O jovem brusquense Matheus Correa Souza é exemplo vivo do que Pavesi diz. Campeão de natação nos Parajasc deste ano e do ano passado e campeão brasileiro de natação para deficientes visuais (o campeonato brasileiro aconteceu no ano passado em Brasília). Seu objetivo é treinar muito e ir para a Paraolimpíada. Afinal, o cego pode fazer tudo que uma pessoa normal faz. São independentes para quase tudo. Uma das poucas coisas que não pode é dirigir.Para Pavesi, a maior dificuldade em Brusque são as barreiras arquitetônicas. “A cidade não está preparada nem para nós nem para os deficientes físicos. Na realidade não está para ninguém, imagine para os deficientes”, finalizou.