A psicóloga Aida Souza Morales defende a educação sexual como forma de esclarecer dúvidas e prevenir problemas entre os deficientes intelectuais que estiverem começando sua vida adulta
RAQUEL DO CARMO SANTOS
A psicóloga Aida Souza Morales defende que jovens adultos com diagnóstico de deficiência intelectual tenham acesso a informações sobre sexualidade. Aida desenvolveu estudo na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e analisou os modos de participação de 18 jovens da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), de Sumaré, nas aulas de orientação sexual oferecidas por ela, em conjunto com as professoras de cada turma.
Em razão de sua experiência, a psicóloga tem convicção de que as pessoas com deficiência não só têm o direito de estarem informadas sobre sexualidade, como também acredita que as orientações passadas de maneira adequada podem garantir maior segurança desta população.
“Muitos pais acreditam que o filho com deficiência intelectual não irá desenvolver determinados desejos como namorar, beijar ou casar. Trata-se de um equívoco. Pude comprovar, neste estudo, que eles possuem desejos como qualquer outra pessoa e têm muitas dúvidas em relação à sexualidade”, destaca a psicóloga, que foi orientada pela professora Cecília Guarnieri Batista.
Ela dividiu o grupo em duas turmas, filmando durante dois anos as aulas ministradas para os jovens adultos que tinham idade entre 17 e 33 anos. As aulas duravam, em média, trinta minutos e abordavam temas tais como: corpo humano, hábitos de higiene pessoal, namoro, beijo, coito, homossexualidade, métodos contraceptivos e doenças sexualmente transmissíveis. As aulas transcorriam com o auxílio de livros didáticos infanto-juvenis, bonecos e material visual e áudio-visual.
Para as análises, Aida selecionou oito episódios por turma, uma vez que seu objetivo era verificar indícios de apropriação de práticas sociais e de formação de conceitos relativos à sexualidade por parte desses jovens. Não foi surpresa para a psicóloga as mais variadas reações durante as “conversas”. “Muitos tinham curiosidades e falavam, por exemplo, que revistas pornográficas, caso alguns deles tivessem em casa, deveriam estar no guarda-roupa. Quer dizer, eles tinham a consciência de que não era algo que poderia ficar exposto em casa. Outro comentário foi sobre a responsabilidade da gravidez”, comenta. Aida detectou também que a maioria dos jovens se apropriava dos valores morais do ambiente em que viviam.
A psicóloga explica que existem poucos trabalhos no país abordando o tema. Segundo a especialista, o assunto ainda é considerado um tabu, principalmente entre os pais que acreditam que este tipo de abordagem poderia incentivar as práticas sexuais. “É uma questão muito séria e, por isso, deve ser tratada com seriedade. Esta população tem o direito de estar informada e de encontrar um espaço para o esclarecimento de dúvidas. Eles possuem capacidade para assimilar as informações, e, na escola, houve relatos de redução de problemas, após a implantação do programa”, defende.