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06/02/2025
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Sem emprego, cidadão perde identidade

Quando duas pessoas desconhecidas iniciam um diálogo, uma das primeiras perguntas que são feitas é a respeito do nome de cada um. Devidamente apresentadas, normalmente a pergunta seguinte é sobre o lugar onde a pessoa trabalha. Isso dá bem a dimensão do quanto o emprego é valorizado pela sociedade. Estar fora do mercado de trabalho é quase sinônimo de exclusão social. É como se a pessoa não tivesse uma identidade. “A sociedade costuma rotular as pessoas pelo emprego que elas têm”, afirma a psicóloga Daniela Cruz Henriques.

Muitas vezes o desempregado é taxado e tratado como uma pessoas improdutiva pela sociedade, fato que contribui para aumentar a exclusão, afetando ainda mais o lado psíquico e elevando sua sensação de incapacidade.

Para a psicóloga Marcela Velosa, essa cobrança exagerada por produção é um dos motivos que levam também o deficiente físico a ser marginalizado por uma grande parte da sociedade. “Como não produzem, são considerados incapazes”, justifica.

Em 2006, a taxa de desemprego no Brasil foi de 8,5%. Em Bauru, no mês de julho último foram demitidos 2.616 trabalhadores. No ano, as demissões chegam a quase 20 mil. E nos últimos 12 meses, foram 32.483 desligamentos, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.

Sofrimento

As estatísticas estão aí para mostrar como anda o mercado de trabalho, mas o que os números não revelam é o nível de sofrimento a que cada um desses milhões de desempregados é submetido.

Como disse o renomado futurólogo americano Alvin Toffler, o desemprego corrói a alma, porque afeta profundamente a dignidade humana. Desempregada há oito meses, Angelita de Sousa, 30 anos, diz que quase entrou em depressão depois de ser despedida. “A situação chega a ser desesperadora”, revela ela, que tem três filhos pequenos.

Desde os 11 anos trabalhando, Angelita nunca havia sido despedida antes. “É uma experiência muito ruim. Ainda mais quando se tem filhos”, conta ela. “É duro ver um filho pedir algo e você não ter como dar”, lamenta.

Desafios

Essa experiência vem sendo vivida também por Angelo Denadai, 39 anos. Ele passou 20 anos de sua vida trabalhando em uma mesma empresa. Durante esse tempo, passou de auxiliar técnico mecânico para gerente de compras. A responsabilidade do cargo exigiu de Denadai uma série de especializações. Ele fez curso de espanhol, inglês e ainda cursou faculdade de sistemas de informação.

Hoje, ele está desempregado e não consegue voltar ao mercado de trabalho porque as empresas o consideram “qualificado demais” para o cargo que têm a oferecer. “Eles (empregadores) alegam que eu não vou trabalhar satisfeito ganhando metade do que eu ganhava anteriormente e em uma função que está abaixo das minhas qualificações”, comenta.

Além disso, ele lembra que as empresas dão preferência para os funcionários mais novos, geralmente menos experientes e, por isso, mais baratos. “Eu sabia que isso acontecia, mas ainda não tinha sentido na pele”, revela.

Denadai diz que precisou de apoio psicológico para superar as fases mais críticas do desemprego. “Chega um momento em que a situação fica muito perigosa. Se a pessoa não tiver onde se apoiar o pensamento foge ao controle.” Depois de tanto esperar, ele decidiu montar um negócio próprio. Hoje, Denadai afirma estar mais animado. Segundo ele, no fundo, o que todos querem é uma oportunidade para recomeçar.

http://www.jcnet.com.br

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