Visto como um estádio moderno e construído para receber os Jogos Pan-Americanos, o estádio João Havelange apresentou muitos problemas para os deficientes físicos na sua inauguração no clássico entre Botafogo e Fluminense, neste sábado, no Rio de Janeiro.
O Engenhão, como é mais conhecido e chamado pelos cariocas, não agradou em nada os portadores de deficiência física que foram assistir ao jogo.
Foram inúmeros os problemas. Alguns simples de serem resolvidos com organização e informação. Ao chegarem no estádio, os deficientes físicos não sabiam por qual portão deveriam entrar. E os voluntários que ajudavam os torcedores nos arredores do estádio também não sabiam informar, com exatidão, a entrada.
Marcelo Nasa, 35 anos, só conseguiu entrar no Engenhão minutos antes do início do clássico.
– Cheguei horas antes e só consegui entrar em cima da partida. Queriam me barrar, falavam que eu não podia entrar. Foi muito mal feito isso. Fiquei um tempo enorme esperando até um policial ter que conversar com a pessoa que ficava no portão para liberar a minha entrada que é garantida por lei – disse Marcelo, referindo-se a lei federal n.º 2051/92, que garante a todo deficiente físico entrada gratuita nos estádios de futebol junto com um acompanhante.


Se entrar já foi um problema, imagina chegar até o local reservado no estádio. Os quatro elevadores construídos para facilitar a locomoção dos deficientes físicos não estavam funcionando. Dois que foram projetados na construção do estádio, inclusive, foram desativados. Paredes foram colocadas no local, mas ainda é possível ver a marca em que estaria a porta do elevador.
Com isso, a maioria dos deficientes físicos seguiu pelas rampas de acesso dos torcedores comuns. Poucos receberam a informação de que poderiam subir pelos elevadores dos camarotes e das tribunas de honra.
– É um absurdo o que aconteceu aqui. É muito ruim o acesso. Mandaram eu ir pela rampa mesmo e não tinha força para empurrar a cadeira de rodas do meu pai. Ainda bem que tive a ajuda dos voluntários (que poderiam ter avisado sobre os elevadores dos camarotes) para chegar até aqui – disse Rosana Ferreira, que estava com o pai Renato de Souza, de 73 anos.
Mas a maior reclamação dos deficientes físicos e, esta sim, difícil de resolver é o local destinado a eles no Engenhão. Um grave erro de planejamento. Eles são obrigados a ficar atrás dos torcedores, que na maioria do jogo ficam em pé. E, pior, com uma enorme barra de ferro que fica exatamente na sua visão do campo.
– Não dá para ver nada. É horrível isso aqui. Muito pior do que o Maracanã. Não sei como as pessoas que constroem conseguem fazer isso. Parece brincadeira de mau gosto – diz Marcelo.