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Deficiente que ‘desafia’ Kilimanjaro se prepara treinando jiu-jítsu brasileiro

 

Kyle Maynard, 25 anos, não tem braços nem pernas por doença congênita. Ele falou ao G1 sobre o treinamento para vencer a montanha em janeiro.

“Mesmo que não houvesse ninguém sabendo, eu faria a escalada do mesmo jeito.” A frase resume a história de perseverança de Kyle Maynard, de 25 anos, que devido a uma doença congênita não tem parte dos braços e das pernas. O projeto de Maynard para escalar os 5.895 metros do monte Kilimanjaro repercutiu na mídia internacional esta semana, e o americano falou ao G1 sobre o desafio, programado para janeiro de 2012.

Natural de Atlanta, no estado da Geórgia, o palestrante motivacional e atleta nas horas vagas também divulgou em primeira mão o vídeo do projeto, postado na internet nesta sexta (14), que mostra cenas de seu treinamento (veja no youtube)

Na entrevista, ele conta como tem se preparado para o que chama de “o maior desafio de sua vida”, fala sobre a paixão pelo jiu-jítsu brasileiro, a esperança de vir ao Brasil e a marcante experiência no MMA, além de lembrar de como superou as dificuldades na infância. Leia a íntegra:

G1: Como tem sido o treinamento para o Kilimanjaro? Você se considera preparado?

Kyle Maynard: Minha maior preocupação no momento é aperfeiçoar os acessórios. Quando comecei a escalar, anos atrás, eu usava toalhas amarradas com corda ou presas fita às pontas dos meus braços. Agora passei para pneus de mountain bike forrados com uma espuma. O importante é manter a pele longe das pedras, porque qualquer ferida aberta pode se tornar um problema. Tenho escalado alguns picos na Geórgia e no Colorado, como as Rocky Mountains, com 3,6 mil metros de altitude, mas não tem como simular nada parecido com os quase 6 mil metros do Kilimanjaro. Serão 16 dias na montanha, então acho que vamos fazer o trajeto em um ritmo que seja mais realista para mim.

G1: Você conta com a ajuda da equipe em pontos mais difíceis?

Maynard: Na maioria das vezes eu consigo encontrar um jeito de fazer sozinho. Depende das situações, mas no Kilimanjaro a maior parte do caminho é de tracking, tem menos escalada “técnica”. Estamos treinando mais voltados para o tempo, a velocidade, o que vai ser a parte mais difícil mas também a mais divertida.

G1: Quando a equipe vai se deslocar para a África? Há outros deficientes físicos no projeto, certo?

Maynard: Vamos para a Tanzânia no dia 3 de janeiro, acredito. Temos 10 pessoas na equipe do Mission Kilimanjaro, sem contar algumas pessoas na Tanzânia que devem nos acompanhar. Temos dois representantes dos veteranos de guerras dos EUA, um deles ficou deficiente por conta de um ferimento em combate, o outro devido a um acidente de moto nos Estados Unidos. Eles me ajudam a levar essa mensagem aos veteranos de guerra, o que é um dos objetivos do projeto. Meu pai e um dos meus avós foram das forças armadas, e sempre tive muito respeito pelos soldados. Passei um bom tempo em quartos de hospital com feridos de guerra, e é bom ajudá-los a ver que existe vida após um ferimento.

G1: Em seu site pessoal há uma foto em que você aparece com um quimono de jiu-jítsu com a bandeira brasileira. Você usa o jiu-jítsu para o condicionamento? Já esteve no país?

Maynard: Jiu-jítsu brasileiro é ótimo porque é uma forma de deixar tudo de lado e me focar naquele treinamento. Faço por recreação, mas é ótimo para o condicionamento cardiovascular, o equilíbrio e outras coisas que ajudam na escalada. Ainda não tive a chance de ir ao Brasil, mas estou esperançoso, tenho conhecido muitas pessoas. Com sorte, posso ir fazer uma palestra por aí, e acho que não irei embora nunca mais.

G1: E sua passagem pelo MMA (mixed martial arts), como isso aconteceu?

Maynard: O primeiro esporte que pratiquei foi o futebol americano, ainda criança. Meu principal objetivo era atingir as pernas dos outros com meu capacete. (risos) Isso me levou à luta greco-romana, e depois encontrei o jiu-jítsu. Passei então ao MMA, mas ainda treinei jiu-jítsu durante cinco anos até resolver lutar no MMA, em 2009. Foi um dos meus melhores amigos do colégio quem gravou e dirigiu o filme sobre essa luta. O mais legal dessa experiência foi ver as diferentes reações, muita gente foi contra. Diziam que seria a “primeira morte televisionada na história do esporte”, comentários ridículos, mas a maioria era de pessoas que sequer praticam o esporte e se escondiam atrás de um teclado de computador. Mas as pessoas com quem eu treino, muitos deles profissionais experientes em MMA, me deram todo o apoio para a luta. Eu perdi por decisão dos juízes depois de três rounds, por 27 a 30.

G1: Você citou experiências no esporte desde criança. Como foi crescer com suas deficiências? O esporte o ajudou a levar uma vida normal?

Maynard: Certamente houve momentos muito difíceis. Mas meus pais me criaram com essa atitude, sempre me ensinaram que eu deveria me ver como uma criança normal, não como um deficiente ou alguém diferente. E acho que as outras crianças passaram a me ver dessa mesma forma. Depois que a gente passava um tempo juntos, jogava videogame ou róquei de rua ou qualquer outro jogo, éramos só um grupo de crianças normais, como em qualquer lugar.

G1: Diversos internautas comentaram a primeira matéria sobre sua história, elogiando seu exemplo de vida. Impactar as pessoas é um dos seus objetivos?

Maynard: É muito bom passar essa mensagem ao mundo. “Levante-se, pare de reclamar e persiga o seu sonho”. Nem todo mundo quer enfrentar o Kilimanjaro, mas todos queremos algo. Para mim, transmitir isso é muito importante. Mas, mesmo que não houvesse ninguém sabendo, eu faria isso (a escalada) do mesmo jeito, pela experiência. Não consigo imaginar como vou me sentir no topo daquela montanha, será marcante.

Fonte: G1 – SP

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