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Tecnologias assistivas – Como elas podem tornar a vida menos complicada

Você acompanha nesta semana uma série de reportagens enfocando as tecnologias assistivas, que são soluções criadas para facilitar a vida de pessoas com algum tipo de limitação física, mental ou sensorial. Nas cinco reportagens da série, o jornalista Edson junior nos ajuda a entender melhor o que é tecnologia assistiva e mostra a aplicação desse conceito na educação, nas artes e no mundo do trabalho. Você vai saber ainda sobre as políticas públicas para auxiliar as pessoas com limitações na obtenção de tecnologias assistivas. Na primeira reportagem, vamos saber mais a fundo o que é tecnologia assistiva e como ela pode tornar a vida de uma pessoa muito menos complicada.

 

TEC- TRILHA (Jaws Cantando)

A voz lembra aquelas utilizadas para fazer as vezes de robôs e computadores falantes em filmes de ficção científica. A diferença é que aquelas eram vozes humanas distorcidas com efeitos sonoros. O que você ouve ao fundo é uma montagem feita a partir de vozes sintetizadas, ou seja, a voz é de fato a mesma utilizada para tornar falantes os computadores e outros equipamentos que processam dados.

Não é mais apenas filme de ficção: computadores já falam e até cantam, desde que se saiba utilizar os recursos dos sintetizadores de voz. Mas certamente os sintetizadores foram criados para coisas bem mais úteis do que cantar uma música dos Beach Boys ou qualquer outra.

Associados aos programas leitores de tela, eles fazem com que pessoas com baixa visão ou completamente cegas possam utilizar o computador.

TEC- TRILHA (Voz da Raquel)

Com a melhoria na qualidade dos softwares sintetizadores de voz, eles ganharam muitas outras aplicações, como falar as orientações nos aparelhos de GPS.

Atualmente, até mesmo lojas que colocam sistema de som na porta anunciando ofertas trocaram os locutores pelos sintetizadores de voz.

TEC- TRILHA (Second rendez-vous)

Mas os sintetizadores são só uma parte de uma gama de soluções que têm se tornado cada vez mais sofisticadas e vêm conquistando não só adeptos, mas alimentando um mercado cada vez maior: estamos falando das tecnologias assistivas, criadas para ajudar as pessoas a superar suas limitações, causadas por uma deficiência ou qualquer outro fator de ordem física.

Desde os mecanismos mais elementares, como as cadeiras de roda, a equipamentos sofisticados como reconhecedores de cores, as tecnologias assistivas tornam a vida das pessoas com deficiência mais autônoma, dispensando cada vez mais a ajuda de terceiros.

A professora Ethel Rosenfeld, de 65 anos e cega desde os 13, especializada na área de educação de pessoas cegas e de baixa visão, afirma que as tecnologias assistivas foram muito importantes, principalmente nas suas tarefas em casa.

Mesmo tendo uma empregada doméstica, Ethel, que mora sozinha, nem sempre tem disponível a ajuda de alguém e utiliza alguns equipamentos e estratégias que tornam sua vida mais fácil, desde a separação das roupas à lida com a cozinha.

“Quando eu fiquei cega, naquela época, eu só fazia uso do braile. Eu tinha uns cartões onde eu escrevia o nome da cor, tipo de blusa, tudo em braile, e usava esses cartões sobre as pilhas de roupa. Com a evolução da tecnologia, eu comecei a conhecer outros recursos, e o que veio logo, na ocasião… aquela maquininha de rotular em fita Dimon, que também escreve em braile, e facilitou bastante também. Marco as capas dos meus CDs, DVDs, marco meus cartões de crédito, tudo com essa fita rotuladora transparente. Inclusive uso também pra marcar o microondas, o forninho, esses equipamentos eletrodomésticos.”

Atualmente, a professora conta com equipamentos mais sofisticados, como o aparelho que reconhece e fala as cores dos objetos dos quais é aproximado, e a caneta que associa informações gravadas em áudio pelo próprio usuário a códigos de barra presentes em etiquetas, que, por sua vez, são coladas nos objetos que se deseja identificar. Mas, no dia a dia do lar, Ethel se vale também de soluções muito simples.

“Também eu uso, que não é equipamento, bolinhas adesivas de silicone, bem pequenininhas, que eu marco também equipamentos. Por exemplo: tudo que eu quero saber se está desligado ou ligado, daquele interruptor tradicional, até de parede ou outros equipamentos que tenham interruptor, eu boto a bolinha na posição desligado.”

TEC- TRILHA (Voz do Dosvox)

A informática é talvez o ramo do conhecimento que mais tem contribuído para a criação e difusão de tecnologias assistivas. Que o digam as pessoas com deficiência que passaram a exercer inúmeras atividades antes impossíveis tão somente por causa da ajuda do computador.

Foi em 1993 que um universitário cego e seu professor de computação gráfica decidiram que o melhor modo de aproveitar o semestre que passariam trabalhando juntos era desenvolver uma ferramenta para que o estudante pudesse ter alguma autonomia no uso do computador.

A ideia ganhou corpo e se transformou no Dosvox, um minissistema operacional composto por vários programas próprios, que interagem com o usuário cego ou de baixa visão através de um menu de opções, em que o usuário escolhe o que deseja teclando uma letra.

O nome Dosvox vem do fato de que o minissistema foi criado inicialmente para a plataforma DOS, antigo sistema operacional da Microsoft. Atualmente, o Dosvox tem versões tanto para Windows como para Linux.

O professor Antônio Borges, do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, criador do minissistema, ressalta a importância do computador como ferramenta de inclusão da pessoa com deficiência em geral, mas dos cegos em particular.

“E a partir dessa história do Dosvox, desse desenvolvimento inicial, a gente teve uma surpresa, uma alegria, de saber que as pessoas que tinham deficiência e quando começam a utilizar o computador, a vida delas dá um salto de qualidade, porque elas começam a poder se comunicar, do ponto de vista de escrever e do ponto de vista de obter informações também. A gente pode dizer hoje, com certeza, que uma pessoa cega que não usa computador, ela realmente está defasada em relação à sociedade. E o nosso esforço agora é tentar conseguir que o maior número de pessoas possível possa utilizar.”

Além do Dosvox, o projeto chefiado pelo professor Antônio Borges criou o Motrix, programa baseado em comandos de voz e voltado para pessoas com graves deficiências motoras, que não podem operar o computador utilizando as mãos.

Posteriormente, foi criado o MicroPhoenix, para quem tem inclusive a fala comprometida e pode comandar o computador através dos sons que sua boca é capaz de emitir, ou até com simples sopros.

No caso específico das pessoas com deficiência visual, os últimos 15 anos trouxeram uma verdadeira revolução tecnológica. Atualmente, é possível escolher entre as ferramentas gratuitas, como o próprio Dosvox ou o leitor de telas para Windows NVDA, e os programas pagos como o leitor Jaws For Windows, da empresa norte-americana Freedom Scientific, e o Virtual Vision, da brasileira Micropower.

Algumas empresas já trazem o sistema de acessibilidade incorporado em seus produtos, como acontece com o Voice Over, leitor de telas que é utilizado para todos os produtos da norte-americana Apple.

TEC- TRILHA (Geraldo Magela na Escolinha do Gugu)

O humorista Geraldo Magela, que não se importa em ser tratado carinhosamente pelo apelido de Ceguinho, confessa que se sentia cego duas vezes pelo fato de não saber lidar com o computador até algum tempo atrás.

Foi através de um curso ministrado no Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual da Prefeitura de Belo Horizonte que o humorista tomou contato e gosto pela informática.

O computador é hoje não só um instrumento de interação social, mas uma ferramenta importantíssima no trabalho do humorista.

“A Internet, pra todo mundo, foi uma chave, uma coisa extraordinária. E para o cego foi mais ainda. A gente meio que está enxergando de alguma maneira, porque o programa de voz faz com que a gente navegue pela Internet, mesmo ainda muitos sites sendo inacessíveis, mas, de qualquer maneira, está muito abrangente.”

TEC- TRILHA (03-Rush Hour)

Mas, se a tecnologia assistiva diz respeito a tudo que facilita a vida de pessoas com algum tipo de limitação, não se pode pensar apenas em recursos de informática ou equipamentos de última geração.

Muitas vezes, soluções simples, feitas até mesmo à base de material reciclável, podem ser muito úteis, principalmente para as crianças.

É nesse sentido que trabalha o Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva da Universidade do Estado do Pará. O núcleo desenvolve soluções simples para atender às crianças tanto na escola como em casa.

De acordo com a psicóloga Ana Irene Alves de Oliveira, que coordena o projeto, a idéia é aliar o fornecimento de tecnologias assistivas a um apoio psicopedagógico, tanto à criança com deficiência como à família.

“O nosso foco sempre foi a substituição de tecnologia importada por tecnologia nacional e sempre foi a perspectiva, a alternativa, da tecnologia de baixo custo, considerando que nós moramos numa região pobre… Além da capacitação dos professores e dos profissionais que atendem essas crianças, a gente também tem a capacitação de pais, que os pais também possam saber utilizar esses recursos dentro de casa, no seu dia a dia, no seu contexto.”

Seja através da tecnologia de ponta, seja através de soluções caseiras, o fato é que, cada dia mais, as pessoas com deficiência ou com algum tipo de limitação física buscam uma vida mais independente, mais autônoma. Afinal, autonomia para viver é sinônimo de liberdade. E liberdade é um bem que ninguém despreza.

De Brasília, Edson Junior.

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