Um projeto de conscientização iniciado na sala de aula ultrapassou os limites dos muros da escola E.E. Profa. Ephigênia C. M. Fortunato e está mexendo com a população de Bariri (56 quilômetros de Bauru). Alunos do ensino médio “arregassaram as mangas” e foram para as ruas centrais da cidade pedir aos comerciantes que construam rampas de acesso e possibilitem que os cadeirantes possam entrar nos estabelecimentos comerciais. “Deficiente também é consumidor” foi o lema da campanha.
A acessibilidade dos deficientes físicos virou o mote de uma campanha que ganhou as ruas da cidade através de uma passeata que contou com mais de 150 estudantes. Com camisetas estampando a frase: “A maior deficiência é a falta de respeito” , eles percorreram as ruas do comércio e chamaram a atenção para o problema. Em frente a um estabelecimento comercial, que já providenciou a rampa, os alunos pararam e agradeceram, incentivando os demais a seguir o exemplo.
Segundo o jovem Pedro Henrique do Amaral , aluno do 2º ano do ensino médio, os professores fizeram o trabalho de base. “Eles conscientizaram os alunos e nós resolvemos agir. Os professores lançaram um desafio, fazer com que cada um de nós vivesse situações cotidianas dos deficientes. Isso fez com que nossa visão sobre deficientes ficasse mais humana.”
A primeira fase da ação dos estudantes foi desenvolvida na semana passada, quando eles, em grupos, visitaram o comércio local. “Houve resistência. Em compensação, um grande número de comerciantes se prontificou em adequar as calçadas para os cadeirantes ter o acesso facilitado.”
Durante as discussões, segundo Amaral, os alunos descobriram que o prazo determinado por uma lei federal que obriga o comércio a fazer o acesso, vence em 2 de dezembro. “Muitos deles desconheciam a lei.”
A intenção, de acordo com o estudante, foi promover a conscientização, mas principalmente melhorar a qualidade de vida dos portadores de deficiência. “Não temos números exatos, mas em Bariri deve ter cerca de 200 deficientes, entre físicos, visuais, auditivo e mental.”
Na opinião da jovem Alexia Belini, 16 anos, estudante do ensino médio, o projeto saiu do papel e ganhou corpo. “Descobrimos que não era interesse dos alunos, mas da comunidade. Queremos conscientizar os comerciantes que demonstraram resistência e por isso, partimos para a passeata.”
Debutando após 60 anos
A Casa São Paulo Materiais de Construção foi a 1ª loja a se prontificar em construir a rampa de acesso. Com 60 anos de idade, ela ainda não possuía a obra. “Fizemos logo duas. Uma externa e outra interna. A externa começa na calçada e é por onde o cadeirante pode entrar na loja. A outra, para que os cadeirantes possam se deslocar no interior da loja que tem dois planos.”
Para ele, o trabalho de conscientização que os jovens fizeram surtiu efeito positivo. “Essa garotada fez despertar a necessidade da rampa. Aproveitei e coloquei corrimão na rampa para melhorar o acesso dos idosos. Vou sinalizar o chão.”
O comerciante José Jorge Bueno, dono da Gelateria Pasta Nóbile, também está disposto a atender ao chamado dos jovens estudantes. “Concordo com eles, só não encontrei mão-de-obra para executar. Assim que encontrar começo a obra.”
Para ele, a visita dos alunos foi super importante. “Há 20 anos tenho a sorveteria e alguns cadeirantes são meus clientes.”
Projeto premiado
O projeto de inclusão social do deficiente teve início em 2007 e foi batizado de “Quem acredita sempre alcança”. Idealizado pela professora de Educação Física, Giane Falsetti, ele está dentre os selecionados pelo Projeto Professores do Brasil, uma promoção do MEC. “Ontem recebemos informação que ele está selecionado para ser premiado.”
Tinha um símbolo que era um para atleta, sinônimo de superação. “Na época, o trabalho foi feito com os 3ºs colégios. Esse ano, o projeto teve outras características. Os 2ºs colégios decidiram incluir o deficiente, apesar de não termos nenhum aluno cadeirante.”
Segundo a professora foram feitas vivências. “Eles andaram de cadeiras de roda, jogaram futebol de olhos vendados. Eles pesquisaram na cidade qual era a acessibilidade para um cadeirante ou mesmo para um cego e descobriram a lei 5296/2004, que determina a construção de rampas nos estabelecimentos comerciais. O prazo máximo para ser cumprida é 2 de dezembro de 2008.”
Para encerrar as atividades deste ano, os alunos vão assistir uma palestra com Maria de Fátima Lombro de Botucatu. “Ela vem fazer palestra no dia 28 de novembro. Ela não tem braços e pernas, já foi vereadora, dá aula e escreve com a boca.”