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05/02/2025
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Turismo para deficientes, qualidade de vida e cidadania

Em 10 de maio, comemora-se o Dia do Guia de Turismo, bom momento para falarmos do turismo para deficientes. Milton Bellintani foi, durante anos, editor-chefe da revista “Sentidos”, cujo foco é a inclusão social da pessoa com deficiência. Um dos que mais lutam para ampliar a inclusão social ao deficiente, Milton hoje produz livros, artigos e outros materiais a respeito dos deficientes.

Segundo ele, “fala-se muito em direito ao trabalho e esquece-se que o acesso ao lazer é um indicador de qualidade de vida e cidadania. O trade turístico ainda está longe de adequar-se para receber esse público”.

Milton alerta: “No Brasil, 14,5% da população possuem algum tipo de deficiência, segundo o Censo 2000 do IBGE. Aos números de hoje, 27 milhões de brasileiros tem deficiência ou mobilidade reduzida. Considerando seus familiares, quase a metade da população convive diariamente com a realidade da deficiência. Isso seria suficiente para colocar o tema deficiência como prioridade. Ainda não é”.

Só 20% menor
Para Milton, “no que se refere ao turismo e ao lazer, se perde uma grande oportunidade de aumentar o volume de negócios por não se oferecer acessibilidade a esse perfil de viajante. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas e da Fundação Banco do Brasil, de 2002, revelou que a renda média da pessoa com deficiência é apenas 20% inferior à do brasileiro sem deficiência. Em resumo, os potenciais turistas com deficiência têm um perfil parecido com o dos demais. E uma vantagem em relação a eles: quase nunca viajam sozinhos. Em outras palavras, injetam mais recursos no trade quando viajam. Ao adequar-se para receber bem esse turista, o setor recuperaria rapidamente os investimentos em reforma para acessibilidade e treinamento de pessoal”.

Já temos no Brasil agência de turismo especializada para deficientes, apesar de ele ser ainda um mercado a explorar. Nos EUA e Europa, há anos várias agências resolveram trilhar esse caminho.

Guias especializados
Em 2001, Andréa Schwarz, fonoaudióloga cadeirante, lançou o guia “São Paulo Adaptado”, narrando as dificuldades de um deficiente em busca de lazer na capital paulista e os locais que ofereciam condições de acesso a pessoas com necessidades especiais. O sucesso foi constatado com a venda de 30 mil exemplares.

Em abril deste ano, Andréa lançou o guia “Brasil Para Todos”, mostrando como anda a acessibilidade para os deficientes em dez capitais do País.

A experiência havia mostrado a ela que quem faz a programação dos guias culturais se limita a telefonar e perguntar se o local está adaptado para deficientes. A resposta é sempre um “sim” porque as pessoas acham que fazer uma rampa e colocar barras de apoio nos banheiros é suficiente. Para Andréa esse “básico” não resolve o problema dos deficientes, pois detalhes de angulação da rampa ou altura de um degrau, por exemplo, são cruciais para quem está tentando chegar numa cadeira de rodas.

Por isso, o “Brasil para Todos” foi feito em seis meses por 11 repórteres que transformaram em texto as observações de 11 deficientes. Os próprios repórteres foram colocados em cadeiras de rodas para sentirem na pele a situação real. Dividido em três partes (onde ficar, onde comer e onde ir), o guia checou a acessibilidade não apenas de restaurantes, hotéis, bares, mas também de pontos turísticos ultraconhecidos como Pão de Açúcar e Cristo Redentor (Rio de Janeiro, RJ), sítio histórico (Olinda, PE) e Pelourinho (Salvador, BA).

Andréa teve ainda o cuidado de não se limitar a checar os problemas referentes apenas aos cadeirantes. “Brasil para Todos” se preocupou também com os deficientes auditivos, do aparelho motor e cegos.

* Com Lucila Cano.

Engel Paschoal (engelpaschoal@uol.com.br) é jornalista e dá cursos e palestras sobre responsabilidade social.

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